Raphael Reys
Medir em tal urgência a profundidade
da alma humana – Rachel de Queiroz
O homem atribui à alma compromissos dos seus desejos! É a busca da Pasárgada que existe no recôndito do seu inconsciente; é assim como uma lembrança mágica de um pensamento também mágico.
Ao entrar num bar para desafogar suas mágoas, para inebriar-se, o ser vivente humano altera o seu consciente e expele os seus demônios, põe para fora toda a toxidez que o atormenta, consciente ou inconscientemente. Ele pensa que assim ocorre; mas, na verdade, pode estar pondo para fora apenas um camundongo que, segundo o dizer da imortal escritora: este camundongo voltará como um rinoceronte.
Toda manhã, pelas 5h30, fico sentado à mesa de um bar, próximo a minha casa, tomando cafezinho, lendo ou rascunhando, e observando as pessoas que chegam para tomar a primeira dose do dia. O dia mal começa e já começa a busca do torpor da consciência, as emanações voláteis, a aparente relaxação! Um a um vão chegando os seres humanos afetados pelo desespero desse louco cotidiano que é a vida moderna, fregueses da pinguinha e da cervejinha.
Falam, agitam, gesticulam no salão do bar já repleto. Após beber, alguns partem para o seu ambiente de trabalho, onde enfrentarão as adversidades da disputa desonesta. Verão a prostituição que macula nossas pobres meninas de bairro, os baixos cleros, a inflação crescente, a usurpação do poder, a incerteza, o desamor, o imediatismo, a boçalidade, os preconceitos que matam e atrasam o indivíduo na sua evolução...
É o feitiço da dor que passou a ser necessário, num exercício de auto-imolação. Bebuns atores que, a cada dia, inventam umas novas para enganar o dono do bar e manter o vício. Este, o proprietário do boteco, um terapeuta sofredor, sem que saiba, é o mantenedor do ambiente de ilusão dos sentidos.
Ele, o dono, cedo ou tarde beberá também, contaminado pela aura do ambiente.
O bar é a casa de Arigó/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"right">* Cronista