Luis Cláudio Guedes (*)
Tenho propósito de reivindicar sapiência nenhuma, apenas conto o que vi. E do que vi na minha última passagem pelo Norte de Minas, dois fatos sem nenhuma relação mútua chamaram atenção. Um deles, a piora sempre constante da música que se toca e ouve nas emissoras locais, piratas quase todas. Que perspectiva estética pode ter uma juventude que curte os acordes de uma banda que achou por bem se chamar “Oz Karaz de Toalha”, numa triste concessão ao mau português.
Surpresa nenhuma os versos dos Karaz na inacreditável “Chupeta”: “Toma negona/ Toma a chupeta/ Na boca e na buchecha. Gugu dadá, gugu dadá/ Se você pedir, painho vai te dar”. Talvez não se tenha ouvido algo mais politicamente incorreto desde que Lamartine Babo e os Irmãos Valença compuseram “O teu cabelo não nega” que dizia, em proposta melódica infinitamente superior a clássica estrofe “Porque és mulata na cor/ Mas como a cor não pega, mulata/ Mulata eu quero o teu amor”. Aqueles eram outros tempos, onde não se admitia alusão de tão mau-gosto a tal chupeta, agora tão explícita. Lamartine ficou mesmo no racismo óbvio, mas então tolerado.
Exemplo, entre tantos outros, do efeito colateral da redução nos custos da produção musical, somado com a força democratizante da internet e youtubes tantos. Mas tudo agora é arte, como bem o demonstram as estultices que vão aí pelas bienais. Por sinal, foi em Manga que ouvi pela primeira vez o hit de um único verão que tomou conta do país, aquele do “Vou não, posso não, minha mulher não deixa não”.
Dito isso, outra supresa negativa com a péssima qualidade dos serviços de internet que estão à venda longe dos grandes centros, onde o interesse comercial das grandes operadoras nem chega perto por conta da óbvia falta de demanda. Complicado fazer uma simples consulta por conta da lentidão das conexões de baixíssima banda. Imagine manter uma página com o nível de banda que esta que você acessa necessita como requisito básico.
(*) Jornalista