Petrônio Braz (*)
Balangar, registram os dicionários, é uma variante linguística de balançar, mas especialmente balançar em uma rede, que pode nos levar a uma oscilação cultural entre opiniões diversas sobre pessoas ou coisas, filmes ou livros, em situações as mais variadas.
Balanguei com estranhamento (ostranenie) levado pela forma de superar a si mesmo mostrada pelo cronista Itamaury Teles de Oliveira no livro inédito: Balangador de rede. Digo estranhamento quando leio suas crônicas com o sabor de quem via no cronista a capacidade buscada em Tolstoi, de elogiar, criticar e até ridicularizar quando preciso, num processo de união de valores heterogéneos.
O começo de qualquer livro já foi comparado ao desespero do espermatozóide em busca da fecundação para se tornar um humano, mas um livro de crônicas não traz essa complexidade ovulatória. O difícil, nesse caso, é escolher a primeira crônica para abertura, já que se o leitor não agradar, não lerá as outras.
A literatura registra a crônica como um gênero narrativo e, nesse campo do saber humano, Itamaury Teles tem se destacado na imprensa regional norte-mineira. Na primeira crônica do livro, que dá nome à obra, narrada na primeira pessoa, ele relembra passagens de sua própria vida e de seus familiares. No balangar da rede ele nos conduz às outras crônicas, que trazem independência de estilo.
Cumpre ser destacado, em todas as crônicas, o elevado grau de domínio artístico do Autor na manipulação de seu ponto de vista, que chega a nos convencer a negar uma possível verdade como na crônica: Alunissagem: a dúvida continua.
O coração é o órgão da vida, mas é também, como quer Itamaury Teles, a sede das principais atividades de uma comunidade, e ele elege o Café Galo, merecidamente, como o coração de Montes Claros. Quem ousa duvidar?
Mistério ou suspense, com todos os ingredientes do “por que aconteceu?” ele nos eleva às alturas do imaginável na crônica Digressões oníricas, mas nos deixa consolados ao concluir que era tão somente um sonho.
Liço e Liseno são apenas palavras, que nem sempre fazem sentido ao serem pronunciadas, por não estabelecerem uma ideia de ligação entre elas e a coisa a que se referem, daí sermos levados a buscar na teoria estruturalista uma relação de equivalência, sem uma objetividade clara. Somente lendo a crônica Ciço, Liseno e o bode de Jacó foi-me possível entender, mesmo porque não tinha lido, antes, o livro “A arte de Furtar” do padre Manoel da Costa.
A mente humana possui um fluxo contínuo de pensamentos, que produzem emoções e gravam memórias, mas, como observa o Autor de Balangador de rede, sem a inscrição em uma confraria, como ele confessa, “dificilmente escreveria crônicas e meus comentários na imprensa, pois essa interação é muito importante para realimentar o espírito criativo e o senso de humor”. Esse monólogo interior, essa confissão espontânea pode ser um devaneio, um fluxo de consciência emotiva, que se prende ao passado produtivo do Autor enquanto ativo servidor do Banco do Brasil, sempre presente em atividades produtivas.
Não preciso me estender mais sobre o livro que tenho em mãos, espere para ler.
(*) Advogado e escritor