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Quarta-Feira,25 de Dezembro

Bala 60: a crítica do livro - por Felippe Prates

Jornal O Norte
Publicado em 02/10/2007 às 16:30.Atualizado em 15/11/2021 às 08:18.

Felippe Prates



Com gentil e expressiva dedicatória, fomos presenteados pelo autor com o livro “Bala 60”, de Augusto Bala Doce Vieira, nosso ilustre e muito querido conterrâneo, um agradável registro dos seus primeiros sessenta anos de vida, em que encontramos uma feliz mistura de auto-biografia, crônicas, poesias, viagens e muito mais.  Na verdade, o cidadão Bala Doce “engoliu” o magistrado Augusto Vieira, emboramente a brilhante carreira profissional, hoje aposentado.  Assim, o doutor juiz já era e agora convivemos somente com a cativante figura humana do Bala Doce, esta sim, uma personalidade marcante e definitiva, um “mahatma”, como diria o notável escritor e cronista Raphael Reys *, o Rubem Braga do Cerrado que, a propósito, passou de satélite a planeta, tem luz própria e de há muito deixou de ser “cria” do grande Haroldo Lívio, nosso insuperável mestre.  Se um dia o Bala Doce saiu de nossa terra  –  a sua aldeia, como diz ele  –  para estudar e ser gente na vida, o que deu certo, a aldeia jamais saiu de dentro dele, nele repercutindo sempre. Ainda bem, pois juizes temos muitos, mas gente iluminada por alta sensibilidade, como ele, uma característica congênita, pouquíssima.



A leitura mais aprofundada do livro “Bala 60”, revela aos observadores mais sensíveis e argutos, que estamos na presença de um homem bom, apaixonado pelos amigos e pela família, um poeta da vida em tempo integral, sensível, emotivo e que, como nós, sofre de chorador desregulado.  Até quando apela um pouco, ele brilha, pois muito longe de ser chulo o nome feio é bem colocado.  Num dos belos momentos do livro, diz Bala Doce que o amor é o combustível que impulsiona a sua vida, a mais pura verdade, pois este livro foi escrito com o coração.  Fala de Montes Claros e contemporâneos com grande carinho e emoção, narrando inúmeras histórias engraçadíssimas vividas em nossa terra, no convívio com expoentes e tipos populares inesquecíveis, a quem homenageia com categoria, sem exageros, coisa rara, a eles se referindo com muita saudade e muita ternura.



Há poemas belíssimos, emocionantes.



Romanticamente evocativo, Bala Doce certamente ainda não se deu conta de que a saudade maior que sente é, sem dúvida, dele mesmo, não só da infância e da juventude, mas de todo um passado repleto de tanto amor.



Parabéns, portanto, ao caro Bala Doce, este enorme e consumado boa praça, pelo seu ótimo “Bala 60”, um livro correto, muito bem escrito, de excelente apresentação gráfica, que temos a satisfação de recomendar aos apreciadores da literatura de qualidade.



* Raphael Reys – Grata revelação da crônica mineira, notável escritor, denso e refinado, muito culto, que por escrever de um jeito diferente, como Rubem Braga, é mal compreendido, invejado e até perseguido por profissionais e militantes amadores dos jornais, seja “por obitusidade córnea ou má fé cínica”, como bem disse Eça de Queirós, na abertura de “O Crime do Padre Amaro”.  Recentemente, Raphael teve várias de suas crônica citadas e transcritas no jornal “Hoje em Dia”, de Belo Horizonte.  Já o descobriram e o seu ingresso na imprensa paulista e carioca de qualidade que, com justiça, lhe valerá fama e fortuna, é questão de tempo.


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 “The evil men do goes after them, the good is always enterred with their bones”.  (O mau que os homens fazem vai além deles, o bom é sempre enterrado com seus ossos).  William Shakespeare, in “Julius Caesar”.

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