Felippe Prates
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Chamava-se Zózimo Reys de Almeida. E tinha enorme desgosto quanto ao “Zózimo”... De vez em quando queixava-se ao pai, relacionando os problemas que encontrava na vida por ter um nome desse.
Explicava que o “Z”, por ser à última letra do alfabeto, reservava aos infelizes cujos nomes por ela se iniciavam, o resto de tudo, apenas o que sobrava, o restolho, sem aproveitamento. Nas provas orais na escola, por exemplo, quando finalmente chegava a vez dos alunos “com Z”, os professores já estavam cansados, mal ouviam as respostas, o que sempre resultava em notas baixas.
- Agora mesmo, o professor de Português resolveu fazer uma argüição-concurso, sobre as cores existentes. Não podem ser repetidas e todos que disserem uma cor nova, inédita, ganharão um bônus de três pontos na média mensal da matéria. Sou o 41, o último da lista de chamada, quando chegar a minha vez será impossível lembrar uma cor que ninguém ainda falou...Vou perder o bônus...
- Vai não, Zózimo, meu filho querido! Conheço uma cor que nenhum colega seu jamais ouviu o nome: azul sulferino! É um tom muito raro do azul, desconhecido pela maioria das pessoas. Vamos falar baixinho, para guardar o segredo. Você vai brilhar e ganhar os pontos, pois ninguém, ninguém mesmo vai se lembrar do azul sulferino, antes de você.
- Ô Papai, muito obrigado! Azul sulferino, azul sulferino, azul sulferino... maravilha! Vou escrever o nome dessa cor na minha mão, para não correr o risco de esquecer... Ô Papai, você é o maior! Azul sulferino, azul sulferino, repetiu à exaustão, tentando decorar bem decorado.
Chegou o dia. Chamando o nome dos alunos pela lista de chamada, surgiram cores conhecidas e sofisticadas. Zózimo repetia, mentalmente, azul sulferino, azul sulferino, antegozando o sucesso que faria com essa cor tão exótica. Começando com “X” havia o Xisto, um crioulo muito falante, cheio de novidades. Logo depois, seria a vez dele, a esperadíssima hora. E não faltavam cores e mais cores. O professor dizia o nome do aluno, este ficava de pé e falava a sua, obrigatóriamente ainda não lembrada.
Selma.
Verde piscina!
Thiago.
Verde musgo!
Ulisses.
Cor de rosa pálido!
Vitória.
Vermelho ocre!
Zózimo, ligadíssimo, nem piscava. Com o coração disparado de tanta emoção, já ouvindo a música da vitória do Galvão Bueno, repetia mentalmente, sem mexer a boca, azul sulferino, azul sulferino, comemorando: meu Deus essa é minha, ninguém tasca, essa é minha, essa é minha, vou ganhar os pontos, só eu, somente eu conheço essa cor difícil e direi seu nome...
Xisto.
A-ZUL SUL-FE-RI-NO!
Zózimo.
PRE-TO FI-LHO DA PU-TA!