Aula de dança

Jornal O Norte
Publicado em 21/03/2010 às 23:37.Atualizado em 15/11/2021 às 06:24.

Marcelo Braga


Articulista


mqbraga2009@hotmail.com



Todo calendário traz alguns homenageados em suas folhinhas.



Sendo um assunto de importância extrema, adquiri um calendário de dias especiais, para estudar melhor o tema.



Como o ano dura muito pouco, não existem dias suficientes para ser dados a tanta gente e a tantas coisas.



O que leva a uma situação como a que segue.



Depois de uma compra de valor expressivo, o cheque quase preenchido, volta-se o cliente para a vendedora e pergunta:



— Que dia é hoje?



Ela, muito solícita, sorri:



― Dia da saudade, dia do portuário, dia nacional da história em quadrinhos, senhor!



Confuso e irritado, o cliente se imagina protagonista de alguma pegadinha:



― O dia do mês, minha filha! Pra eu acabar de preencher aqui! ― quase aos berros.



― Desculpe-me, senhor… Trinta de janeiro, dia da não-violência! ― esperando a caneta, com um ar de vencedora.



Dez de março foi o dia do sogro.



Respirei um pouco da esperança de não haverem criado, ainda, o dia da sogra. Mas bastou descer alguns dias no calendário para dar de cara com o 28 de abril…



Todas as senhoras simpáticas do Brasil podem se reunir nesse dia, para um chazinho com torradas, ou uma matinê revigorante, regada à coca light e pipoca amanteigada. Já ouvi falar em bandos de sogras, todas mascaradas, que se reúnem nessa data, para lotar, furtivamente, clubes de mulheres. Qualquer tipo de comemoração é válido! Principalmente porque não deveriam esperar convite nenhum para jantar na casa da filha.



O art. 1º do Regimento Interno da AGU (Associação dos Genros Unidos) instituiu, expressamente, o luto oficial no dia 28 de abril.



Seu §1º proíbe, exemplificativamente, jantares, festas, idas a restaurantes, celebrações de missas de ação de graças, pagodinhos e afins no citado dia. A pena cominada é a obrigação de o associado infrator suportar a sogra morando com ele por um período de seis meses. O reincidente terá a pena duplicada.



Mas é no § 2º que o diploma normativo mais inova: traz a figura do “ex-genro”. Dita o dispositivo que o genro associado pego praticando atos carinhosos com a sogra no dia 28 de abril será banido da associação, deixando de ser genro aos olhos de todo o universo. Os atos carinhosos abrangem qualquer contato entre genro e sogra que expresse a mais remota ideia de consideração; proscritos, portanto, beijos no rosto, abraços (apertados ou não), afagos e, até mesmo, apertos de mão. Penas cominadas para esse tipo de infração: o ex-associado deverá vender sua casa; ir morar, definitivamente, com a sogra; passar a chamá-la, a partir desse dia, de “mamãezinha”; e nunca mais rir de piada alguma que fira os interesses das sogras. Valem como prova todos os meios admitidos em qualquer ramo, inclusive o diz-que-diz-que.



Acho que me desviei um pouco do assunto original…



Há tipos de sogros que, realmente, tornam-se inconvenientes. Como o sogro que está, a todo o momento, tentando competir com o genro. Ou aquele que vive convidando o genro para algum programa, para mantê-lo afastado da namorada durante o maior tempo possível.



Mas há poucas unanimidades como as sogras!



Alguém já parou para pensar por que a língua de sogra não se chama língua de sogro? O fato de ser um apito, com um papel comprido na ponta, que se desenrola quando soprado, pode ser um bom indício.



E o olho de sogra? Uma ameixa, ou tâmara seca, rodeada por doce de coco com leite condensado. Já ouvi sonhos estranhos de genros eufóricos que se empanturravam dos tais docinhos. Mas lembravam que eram enfeitados com cílios exatamente iguais aos de suas sogras. E acabavam por piscar como elas.



Meu pai nunca provou um olho de sogra. Mas adora colocar a sogra dele em situações vexatórias. Serve-a de bandeja em quase todas as reuniões familiares. Os outros genros ficam ali, salivando, à espera das sobras. Vai que um olhinho dá sopa!



Brincadeiras à parte, meu pai é um bom genro. Pirraça minha avó, enche a paciência dela, faz um bocado de intrigas. Mas é tudo muito saudável.



Eu nunca tinha reparado, mas ele, realmente, evita encontrá-la nos finais de abril. Deve ser por medo da fiscalização da AGU. Não há lei definindo como crime a “esganadura de sogra”. Contudo, não faltará uma língua de sogra para subverter tudo e jurar que o chacoalhar do pescoço dela sob as mãos dele não passava de uma carinhosa aula daquela dancinha do Fat Family.



Felicidades aos sogros!



Ano que vem falo dos senhores. Prometo!

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