Ativar a vida

Jornal O Norte
04/11/2009 às 08:56.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:15

Paulo César Gonçalves de Almeida


Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES


 


O sociólogo italiano Domenico de Masi escreve que não há felicidade sem apreensão do sentido, do significado, da existência e das coisas. No entanto, a pós-modernidade neoliberal procura nos destituir de filosofia, horizonte histórico, visões do mundo, para nos encerrar miseravelmente no jogo mesquinho de nossas tendências egoístas, raciocina Frei Beto.

Então, contestar a inclusão de filosofia e sociologia nos processos seletivos (vestibulares) é o mesmo que lutar contra o desenvolvimento holístico do ser humano. A alma não pode ser encarcerada no lúgubre cadafalso do materialismo consumista ou da inércia porque ela nasceu para alcançar os céus, utilizando caminhos diversos, como espiritualidade e o pensar.

Ismália, mesmo no desvario, pôs-se na torre a sonhar, e, ao final, Alphonsus de Guimaraens aponta que ela recebe asas espirituais e de Deus: As asas que Deus lhe deu/ Ruflaram de par em par/Sua alma subiu ao céu, /Seu corpo desceu ao mar.

A adoção de filosofia e sociologia no ensino médio em 2008 e, por consequência nos “vestibulares”, é resgate democrático. Nietzsche argumenta que é necessário ativar o pensamento para que o pensamento ative a vida.

O ensino obrigatório de filosofia e sociologia foi retirado da estrutura curricular em 1971, pelo regime militar. Na ditadura, pensar é perigoso. Daí que, naquela época, surgiu a matéria obrigatória e cerceadora de Educação Moral e Cívica, que petrificou o cérebro das crianças brasileiras, levadas a acreditar que enxergar depois dos olhos era crime hediondo e que a felicidade de se descobrir o novo pelo exercício proficiente do intelecto é apenas ilusão.

A Universidade Estadual de Montes Claros não caminha na contramão da história humana e todas as decisões nos campos administrativo e curricular nascem em fóruns, nas instâncias colegiadas, não são unilaterais ou desejo da Reitoria.

São 47 anos de transformação das vidas que povoam este universo norte-mineiro, Noroeste, Jequitinhonha e Mucuri. Por força legal, e por obrigação de valorizar o sistema educacional, os vestibulandos e futuros acadêmicos, a Unimontes não poderia deixar de anexar filosofia e sociologia ao seu processo seletivo, apesar da visão anêmica de muitos diante do novo, do desafio.

A Unimontes olha para o todo, valorizando o indivíduo; desenvolve o coletivo, reconhecendo o único. Ao mesmo tempo em que é valoroso trabalhar para a construção do Restaurante Universitário, realidade que acontecerá, superando desafios antes intransponíveis, discutir filosofia e sociologia também é prioridade.

No período barroco, quando se mesclavam o antropocentrismo e o teocentrismo, o homem sofria e se martirizava no dualismo de seus pecados e da necessidade de continuar a alcançar o eterno.

Era o fim da Idade Média, advento da Renascença, conforme Jacob Burckhardt, a descoberta do mundo e do homem. Mas logo veio o Iluminismo, revoluções libertárias, caminho aberto para o hoje melhor.

Mesmo com ocorrência de retrocessos rasteiros aqui ou alhures, as instituições que elevam a cidadania e o cidadão, como é a Unimontes, devem manter-se no front do desenvolvimento, valorizando o pensamento, o homem, a alma.

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