Jeny Canela Perosso
Professora e pesquisadora
A leitura é uma deliciosa e inesgotável fonte de prazeres e de possibilidades para enveredarmos, cada vez mais profunda e minuciosamente, na fascinante e prodigiosa aventura do conhecimento, sem perdermos a capacidade de relacionarmos conhecimento científico com a questão do trato e do respeito pelo outro como ser humano. Atentando para o fato de que o conhecimento precisa estar atrelado à capacidade de nos tornarmos mais humanos e generosos, uma vez que isolado não contribui para a transformação das pessoas, que leva à transformação da sociedade como todos almejamos e precisamos.
Ressalta-se, nesta perspectiva, a abrangência do significado da leitura, que não se restringe, absolutamente, à decifração fria de símbolos, mormente porque ler exige compreensão e interpretação que confere natureza política à referida prática e justifica a capacidade de sedução que o ato de ler proporciona.
Vale sublinhar que a leitura propicia também a capacidade de desvelar esses símbolos inevitavelmente, impregnados de tendências e propósitos os mais variados. Garantindo, por conseguinte, possibilidades reais de os mesmos serem interpretados criticamente, na medida em que representam doces desafios instigadores da perspicácia e favorecedores de melhores compreensões do mundo e de nossas indefinições.
Parece-nos fundamental, portanto, instigarmos permanentemente as delícias da leitura concebida como instrumento instigador do pensamento e da autonomia. E que favorece a capacidade de fazermos nossas próprias opções e inferências acerca dos fatos, das pessoas, das intenções e das perspectivas nossos e dos outros.
Ressaltando o papel da escola no processo de sedução pela leitura, é fundamental que a referida instituição esteja atenta para metodologias e posturas que possam responder, com mais eficácia, ao direito inalienável que o aluno tem de ser despertado e seduzido para o gosto, as delícias e os prazeres proporcionados pela leitura, incluindo aí as grandes obras literárias e também aquelas produzidas no âmbito da escola, pelos alunos, professores e comunidades respectivas. Uma sugestão a ser analisada refere-se à possibilidade de o professor fazer-se modelo de leitor, lendo diária e intencionalmente com ênfase e alegria que a leitura proporciona, textos que emocionam, informam e despertam para a capacidade de criticar inerente à natureza humana. E que pode ser um sinalizador para seduzir os alunos para, também diante do modelo, reproduzirem com mais frequência o delicioso hábito da leitura.