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Uma reflexão sobre a obra “A Espécie Fabuladora” de Nancy Houston

Katiusce Aparecida Silva Santos*
Publicado em 25/04/2023 às 20:00.

Nancy Houston começa a traçar as primeiras linhas da sua obra, apresentando o ponto de partida da reflexão acerca da história humana estar relacionada a criação, a ficção; “Não se nasce alguém, mas passamos a sê-lo. O eu é uma construção custosamente elaborada” (p.23). 

A consciência humana produzida pela ficção se transforma em uma produtora fabulosa, e são as fabulas criadas que dão Sentido às coisas, sendo estas modificadas de acordo com as necessidades. Para Houston “A narrativa confere à nossa vida uma dimensão de sentido que os outros animais ignoram. Por isso, passarei a utilizar, tratando-se desse sentido, uma letra maiúscula” (p.18). O Sentido humano é diferente do animal devido ao fato dele ser construído “a partir de narrativas, de histórias, de ficções” (p.18). 

Houston de forma magnética discorre sobre a fantástica fábrica de ficções que os humanos diariamente criam com objetivo de dar sentido à vida e justificar cada uma das suas ações. A autora caminha pela história da humanidade ao longo das páginas de sua obra, buscando compreender o funcionamento dessa fábrica humana. 

Ao tratar das Fábulas Guerreira, Houston apresenta o funcionamento da fabulação no campo da guerra e da sexualidade; em tempos de paz a vida não tem sentido, os homens desejam a guerra. A guerra é desejada “(...) e traz, tanto à vida daqueles que a fazem como daqueles que a sofrem, uma formidável dose de Sentido” (p.86). 

Segundo a autora o grande interesse do ser humano pelo sexo e pela violência, está diretamente relacionado com um dos mais antigos questionamentos humanos em torno do nascimento e da morte. “A particularidade da nossa espécie não é que ela se abandone à guerra desde o início dos tempos (os chimpanzés e as formigas fazem o mesmo), é que ela faça História disso... E milhões de História” (p.85). Diante da normalidade cotidiana, ou seja, em tempos de paz, o indivíduo tem uma certa dificuldade em estabelecer Sentido à sua vida. Mesmo que a guerra seja sinônimo de dor, morte e violência, ela traz o ânimo de vida. 

Nessa busca pelo Sentido, a capacidade infinita do homem lhe permite criar ideologias, políticas e religiões, todas são invenções, construções coletivas e individuais. 

A obra “A Espécie Fabuladora”, proporciona a abertura de uma nova janela na análise crítica acerca da forma que o ser humano concebe a vida, uma primeira leitura produz inquietação um desejo de ir além, sair da margem e mergulhar na profundidade desse texto que misteriosamente ainda tem muito a ser revelado. 

*Professora, historiadora e mestre em Estudos Literários

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