Minas Gerais, terra de montanhas, histórias e encantos, também carrega um grande desafio: transformar um déficit crônico de saneamento básico em uma rede que respeite as necessidades humanas mais básicas e promova dignidade. Uma pesquisa recente da IFAT Brasil, em parceria com a Pezco Economics e a Resolux Company, escancara um cenário que precisa ser urgentemente enfrentado.
No estado, 23,5% da população ainda não têm acesso à rede de esgoto, enquanto 15,8% não são contemplados com rede de água. É como se cada esquina de Minas contasse uma história de negligência, refletida na vida de milhões que vivem sem acesso ao essencial.
E se a água não chega a todos, a que escapa é igualmente preocupante: 36,8% das redes perdem água tratada antes mesmo de chegar às torneiras. E o que dizer do esgoto? Apenas 43,7% são tratados, um percentual que grita por atenção num mundo onde sustentabilidade não é mais opção, mas necessidade.
Muito além das cifras
O estudo revela que até 2040, o Brasil prevê um investimento de R$ 387 bilhões em água e esgoto. Pode parecer uma fortuna, mas é preciso lembrar que essa cifra não é suficiente para a universalização dos serviços até 2033, conforme previsto no Marco Regulatório do Saneamento de 2020.
Em Minas, onde os desafios são acentuados, o que está em jogo é mais do que canos, estações de tratamento ou redes de distribuição. Trata-se de vidas, de saúde pública e de um futuro onde as águas do estado — tão presentes nas paisagens e no imaginário coletivo — não sejam fontes de doenças, mas de renovação.
O desequilíbrio no acesso e nos investimentos entre as regiões do Brasil também ecoa em Minas. No país, 41% dos recursos estão concentrados no Sudeste, enquanto o Norte, por exemplo, fica com apenas 4% do total. Essa discrepância não é apenas geográfica; é histórica, política e social.
Ainda assim, o marco regulatório trouxe avanços. Desde sua sanção, o triplo do montante investido nas três décadas anteriores foi aplicado em apenas quatro anos. Isso trouxe segurança jurídica, impulsionou o mercado de debêntures e aumentou o apetite por novas tecnologias.
A grande virada
Minas Gerais ainda está parcialmente regionalizada em termos de saneamento, mas essa transição não pode ser apenas técnica; precisa ser humana. Porque no final das contas, números e gráficos só têm valor quando representam qualidade de vida, quando trazem água potável para quem precisa, quando garantem que cada litro de esgoto seja tratado antes de retornar ao meio ambiente.
A história que Minas quer escrever é de águas limpas e vidas dignas. E, para isso, cada gota de investimento, planejamento e compromisso conta. Afinal, o futuro não espera — ele corre, como os rios que cortam essas terras tão cheias de promessas.
*Jornalista/Radialista/Filósofo