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Quinta-Feira,24 de Outubro

Tsunami prateado

Délcio e Leila Silveira
23/02/2019 às 06:17.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:41

Quando decidiu contestar a autoridade, o poder, a dominação e a arrogância da ciência da época, Galileu decidiu observar a realidade, nua e crua... Para isso, construiu uma grande luneta e nunca mais o céu foi o mesmo... Havia perdido a inocência, a virgindade e os mais íntimos e impenetráveis segredos...

Passaram-se tantos anos, séculos até, e estamos de novo diante do mesmo desafio, da mesma encruzilhada, reféns dos dogmas do conhecimento científico, racional, mecanicista, fechado, que fragmentalizou os saberes, especializou as profissões, matematizou nosso raciocínio, materializou nosso acertos, ignorou nossas dúvidas, separou-nos da natureza...

Na escola, nas universidades, já há um movimento, um descontentamento, uma insurgência contra essa camisa de força em que nos metemos, que deixaram nossos educadores formais, estáticos, autoritários, acomodados, donos da verdade, sem jogo de cintura...

A lógica tradicional acadêmica não dá conta mais de lidar com as mudanças tecnológicas e comportamentais das pessoas, dos alunos, dos aprendizes... As velhas estratégias pedagógicas baseadas na memorização e “decoreba” não empolgam mais a moçada , não despertam mais interesse, exigindo novas abordagens, novas metodologias.

Tudo anda muito fluido e escapa pelas mãos se tentarmos segurar... A incerteza é instigada, a verdade é questionada, a imprevisibilidade é total, o caos é a paisagem. Procura-se um “personal trainner” para tudo, mas o que mais nos falta é uma visão do todo, uma perspectiva histórica, uma intuição global, uma interpretação mais consistente da realidade, liberta dos erros e das ilusões que a mídia nos embriaga diariamente.

Há, porém, algo de novo no ar... Contrariando todas as falácias, desafiando todos os preconceitos corporativos, que depositavam só nos jovens a possibilidade criar e produzir, de só atribuir eles o direito de frequentarem uma universidade, fazer um mestrado, um doutorado, está em curso um fenômeno local e mundial , um verdadeiro tsunami prateado, composto de pessoas de 60 anos ou mais que decidiram voltar a estudar, se atualizar e avançar.

O chamado “long life learning” – uma realidade nos EUA e na União Europeia – acaba de chegar às terras tupiniquins e de forma irreversível, e nada mais é que o aprendizado ao longo da vida. As pessoas maduras estão se dando conta de que podem tanto quanto as mais jovens, que o tempo delas é um bem próprio, cuja forma de ser utilizado depende da escolha de cada um. Estão deixando de se intimidar por velhos estigmas, de que existe idade para aprender!

O que move estes veteranos é o sentimento de liberdade essencialmente... É a certeza de que podem ainda intervir no mundo, de que a vida ainda não está acabada, que ainda há muito que contribuir para o mundo e para o próprio aperfeiçoamento... Viver pode ser prosa ou poesia... A escolha é de cada um... Colocar um ponto final antes da hora é não ter consciência do processo inacabado que a educação deve representar na vida de cada um de nós!

Cuide bem de você!

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