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Sobre a humanidade e a esperança

Gregório José*
Publicado em 06/03/2024 às 20:00.

Em uma rua movimentada de uma cidade, três mendigos buscavam sustento diariamente. O primeiro, chamado Pedro, sentava-se em um canto próximo a uma farmácia, estendendo as mãos trêmulas enquanto exibia um papel roto e sujo, pedindo dinheiro para comprar medicamentos. Ele conseguia alguns trocados ao dia, mas, na verdade, Pedro não buscava remédios, mas sim sustentar seu vício na bebida. Apesar disso, quem lhe dava o papel plastificado achava que, apelando para a dor e comoção, ajudaria aquele homem.

O segundo mendigo, conhecido como João, escolhia um local estratégico perto de uma lanchonete movimentada. Sua aparência era um pouco menos maltrapilha que a de Pedro, e ele fazia questão de dar bom dia, boa tarde e boa noite a todos os caminhantes. Além disso, João falava sobre o tempo, contava pequenas histórias e sempre tinha algo novo para compartilhar. Apesar de também consumir álcool, não demonstrava sinais do alcoolismo de Pedro, e sua jovialidade e sorriso cativante conquistavam o coração das pessoas.

Já o terceiro mendigo, chamado Marcos, era o mais maltrapilho e mal-humorado dos três. Ele estava sempre de mal com a vida, e seu olhar e aspecto maléfico afastavam qualquer pessoa que tentava lhe dar até mesmo uma moeda. Além disso, seus olhos vermelhos denunciavam seu vício em substâncias nocivas.

Certo dia, um homem de passagem pela rua observou os três mendigos e ficou intrigado com suas diferentes abordagens. Decidiu então conversar com cada um deles para entender melhor as suas histórias. Pedro explicou sua situação precária de saúde e a necessidade dos medicamentos que não podia comprar. João compartilhou histórias sobre sua vida na rua e suas esperanças por um futuro melhor. Já Marcos despejou seu ressentimento e raiva em palavras duras e sem sentido.

Pedro encontrou apoio para se livrar do vício na bebida e buscar uma vida mais saudável. Foi até um CAPS-AD da cidade e, conversando com psicólogos, médicas e assistentes sociais encontrou um caminho menos penoso à sua débil saúde. João continuou compartilhando sua alegria e esperança com os outros, encontrando conforto na companhia e nas pequenas alegrias da vida. Ajudava as pessoas do CRAS onde fora acolhido e às noites dormia no albergue da cidade podia tomar banho, trocar de roupas e, aos poucos se socializar e retornar ao seio da sociedade como cidadão. E Marcos, aos poucos, começou a perceber que sua atitude hostil só o afastava de uma possível ajuda e compreensão. Continuava perambulando pelas ruas, pedindo aqui e ali. O desespero da vida e a falta de esperanças até mesmo em si não o faziam aceitar uma mudança.

Assim, os três mendigos aprenderam que, mesmo nas adversidades da vida, a gentileza, a esperança e a disposição para transmitir algo de bom podem transformar suas realidades e abrir caminho para um futuro melhor. E as pessoas, mesmo diante de aparências diferentes, são tocadas pelo calor humano e pela abertura à felicidade.

*Jornalista/Radialista/Filósofo

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