Resistência que custa vidas

Wilson Shcolnik*
12/06/2019 às 06:04.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:04

Recentemente, um dos porta-vozes mundiais do movimento antivacina ficou quatro dias internado após contrair catapora. Depois de passar por tratamento, o político italiano Massimiliano Fedriga, afirmou que não apoiará mais a causa. O episódio em questão traz à tona uma profunda e, provavelmente, interminável discussão sobre a colaboração de cada indivíduo da sociedade na prevenção de doenças.

A medicina existe para curar. E mais do que isso, ela objetiva a promoção da saúde de todas as pessoas do mundo. Tendo essa finalidade em vista, o estudo da medicina só terá cumprido sua missão na Terra quando todas as doenças forem passíveis de prevenção e/ou cura. Embora (sejamos realistas) essa meta seja praticamente inatingível, um sonho muito distante.

Para trilhar este longo caminho, aqueles que se dedicam a essa ciência encontraram nas vacinas uma forma de prevenir doenças que até pouco tempo levavam a óbito milhares de pessoas ao redor do mundo.

Com os exames laboratoriais não é diferente. Eles foram criados e são constantemente aprimorados com o intuito de auxiliar na prevenção e controle de várias patologias. Ou, pelo menos, para promover o diagnóstico precoce e aumentar as chances de tratamento e cura.

Não é incomum encontrarmos pessoas resistentes e até mesmo contra a realização de exames. No Brasil, embora este seja um “movimento” ainda muito mais tímido do que o antivacinas, é igualmente perigoso. Uma sandice que coloca em risco a saúde de toda sociedade.

Os “antiexames” têm apoio e até mesmo incentivo de figuras-chave no sistema de assistência à saúde. Como autoridades governamentais que, frequentemente, afirmam que exames com resultados normais são um gasto desnecessário, um desperdício.

O alegado grande número de exames com resultados dentro do padrão não pode ser considerado como um sinal de que exames estejam sendo solicitados sem indicação correta. Neste sentido, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial já aderiu ao programa Choosing Wisely Brasil. O objetivo é orientar os profissionais da área sobre o uso racional dos exames, através de uma lista de recomendações.

Em tempos de medicina preventiva, somados à malfadada medicina defensiva, é de se esperar que exames com finalidades de excluir potenciais problemas sejam incluídos às listas de testes solicitados por especialistas. Portanto, resultados de exames dentro do padrão de normalidade devem ser comemorados. Afinal, já há vasta literatura comprovando que o custo da realização de exames laboratoriais para prevenção é infinitamente menor do que o custo observado para tratamento de uma doença.

Prevenir doenças é um dever coletivo. Assim como as vacinas, os exames laboratoriais preventivos salvam vidas. O papel dos profissionais atuantes no setor é trabalhar para que movimentos de resistência levianos, sem embasamento técnico e científico não vitimizem pessoas que podem ser tratadas e curadas.

*Diretor da Câmara Técnica da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (ABRAMED) e Relações Institucionais do Grupo Fleury.
Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial

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