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Quem não sabe usar o mimeógrafo não pode me julgar

Gregório José*
Publicado em 06/09/2024 às 19:00.

Se tem uma coisa que brasileiro adora, é viver bastante. E com razão! Com praia, futebol e churrasco, quem não quer ficar por aqui mais um tempinho? Mas, e aí, quando a expectativa de vida aumenta, o que fazemos com toda essa gente que teima em continuar trabalhando depois dos 45 anos? É aí que o caldo engrossa.

Segundo o IPEA, em 2040, mais da metade da força de trabalho do país será composta por pessoas acima de 45 anos. Ora, se por um lado temos a experiência dos velhos de guerra, por outro temos os millennials reclamando que a vida é dura, mesmo sem nunca terem usado um mimeógrafo. Ah, o mimeógrafo, essa relíquia! Dá até saudade dos tempos em que a maior preocupação era manchar a mão de tinta.

Vamos ser sinceros, o preconceito etário é real. E não adianta dizer que é coisa do futuro, porque os profissionais 40+ já estão sentindo na pele. E desde o processo seletivo! É mais fácil encontrar um unicórnio do que uma empresa que valorize a sabedoria acumulada ao longo dos anos. Se o currículo traz a década de 80 como referência, o recrutador já olha de lado, como se o candidato tivesse acabado de descer de uma máquina do tempo, com o ombro acolchoado e tudo.

E não venham me dizer que os 40+ têm problemas com tecnologia. Essa gente que programava o videocassete para gravar a novela merece respeito. O verdadeiro desafio não é se adaptar às novas ferramentas, mas encontrar quem dê uma oportunidade. O mercado está mais inclinado a investir na juventude cheia de energia (e outras drogas) e certezas absolutas, que gente preparada.

Mas vamos falar de coisa boa, como o TechPix. Brincadeira! Vamos falar de diversidade. E não estou falando só de gênero, etnia ou orientação sexual. Diversidade etária é uma mina de ouro! Pense num ambiente de trabalho onde a experiência encontra a inovação. De um lado, os jovens com suas ideias mirabolantes e o último modelo de smartphone. Do outro, os mais velhos com soft skills que só a vida ensina: disciplina, resiliência e aquele talento nato para as relações interpessoais. A combinação perfeita para um ambiente de trabalho criativo e colaborativo.

E que tal a troca de experiências? Nada como uma boa conversa de corredor entre o estagiário que fala sobre o último aplicativo da moda e o veterano que explica como fazia para resolver problemas sem Google. Essa pluralidade de ideias só pode levar à inovação. A roda só foi inventada porque alguém ouviu um conselho: “E se em vez de arrastar, a gente rolasse?”

Empresas que promovem a diversidade etária têm colaboradores satisfeitos e resultados melhores. Quem não quer trabalhar num lugar onde a sabedoria é valorizada?

É preciso romper com os estereótipos e abrir espaço para todos. A intergeracionalidade não é só uma questão de justiça, mas de inteligência. E quem sabe, um dia, os recrutadores vão aprender que experiência e inovação podem andar de mãos dadas, sem nenhum preconceito etário.

*Jornalista/Radialista/Filósofo

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