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Por um Brasil que cresce sem crescer

Gregório José*
Publicado em 05/05/2025 às 19:00.

O Índice SumUp do Microempreendedor (ISM) cravou 100,38 pontos em março. Um alívio para os que vendem pão na esquina, costuram no fundo de casa ou arriscam um salão de beleza na varanda. O número representa um crescimento de 2,85% nas vendas em relação a fevereiro. E, se olharmos o retrovisor do tempo, uma alta de 0,70% em relação a março do ano passado.

Mas antes que alguém estoure a champanhe do MEI, é preciso tirar a calculadora do bolso e fazer o que poucos fazem no Brasil: contas. Crescimento, sim, mas rastejante. Um avanço de 0,70% ao ano é o que, em outras épocas, o IBGE chamava de estagnação com febre.

A base da pirâmide está se mexendo. Mas como em areia movediça: cada movimento exige esforço dobrado e traz pouco resultado. O ISM mede a realidade de milhões que vivem da própria força e criatividade, dos que batalham na informalidade ou com um CNPJ magrinho, mas cheio de coragem. E a leitura é clara: estão vendendo mais, sim, mas ganhando quase nada.

É preciso ir além da manchete. A pergunta que se impõe é: esse crescimento sustenta o feijão no prato e o aluguel no fim do mês? A resposta é um sonoro não. O pequeno empreendedor não cresce porque o Brasil cresce; ele cresce apesar do Brasil. A informalidade ainda é refúgio, não escolha. A falta de crédito, a burocracia insana e os impostos regressivos empurram milhões para o empreendedorismo por necessidade — e não por vocação.

Vender mais 2,85% em um mês é, para muitos, apenas o necessário para manter o carrinho de pipoca funcionando, a conta de luz em dia e a marmita garantida. É o famoso crescimento que corre para não sair do lugar. Uma economia que se equilibra em cima de microempreendedores que, de tão micro, vivem à margem das políticas públicas e dos pacotes bilionários.

O ISM traz uma verdade desconfortável: enquanto os grandes discutem incentivos, os pequenos sustentam a economia real. São eles que empregam, que giram o comércio local, que movimentam a vida nas periferias. Mas recebem do Estado apenas estatísticas — e olhe lá.

Se o Brasil quer realmente sair do pântano do subdesenvolvimento, precisa parar de fingir que 0,70% é crescimento. Isso é remendo. É cosmético. É número de economista que nunca precisou vender trufa para pagar a faculdade.

O futuro do país passa pelo presente dos pequenos. Ou melhor: passa pela dignidade que ainda não chegou para eles. O dia em que um crescimento de verdade for sentido no caixa do ambulante e na conta da manicure, aí sim, poderemos chamar isso de progresso.

Porque crescer não é subir um índice. É subir a vida.
 
*Jornalista/Radialista/Filósofo

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