Parque Municipal faz meio século

Mara Narciso Médica e jornalista
02/04/2019 às 07:38.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:03

O melhor tempero de um fato são as lembranças infanto-juvenis. Pelo crivo da saudade, temos mais luz, cor, som, sabor e cheiro. Fatos antigos hoje nos parecem enganosamente grandiosos, não sei se devido a sentidos mais aguçados ou se as comparações de então fossem inviáveis pela inexperiência.

Quando menina, meu tio Zezinho Mendonça, da Serralheria Mendonça, fez serviços metálicos para Toninho Rebello: 1ª torre de retransmissão de televisão, na região do Pentáurea, e bancos e viveiros do Parque Municipal Milton Prates. Aos 13 anos, eu estudava no Colégio Imaculada Conceição. À revelia da escola, mas com o conhecimento das professoras do sábado de manhã, combinamos um passeio ao Parque Municipal, recém inaugurado, no horário das aulas. As mestras, temendo punição da direção, desistiram de ir, e nós meninas fomos sem elas. A trilha sonora do piquenique foi “I Started a Joke”, dos Bee Gees, tocada numa radiola. Pelo menos metade da turma esteve no parque e, como castigo, obrigaram-nos a fazer duas provas de segunda época, nome que se dava à recuperação de conteúdo.

Tenho conexões agradáveis com o Parque Municipal, cujo terreno foi doado por Milton Prates a pedido de Toninho Rebello, um visionário. Lá havia restaurante, bosque, lago, gramado, jardins, pedalinhos, viveiro de araras, área para macacos, piscina de jacarés, veados, leão e onça. A despeito do bom tratamento, os animais grandes sofriam, e era possível ouvir o rei dos animais rugindo, melancolicamente. Dois públicos distintos frequentavam o parque no domingo: de manhã a classe média e à tarde as classes populares. Lá namorei, levei meu filho para andar de bicicleta, fui a manifestações políticas, especialmente, nos nove anos mais felizes da minha vida, os quais morei no Bairro Morada do Parque.

O lugar, inaugurado em 1º de maio de 1969, exerce fascínio em parte da população, e foi palco de comemorações no Dia do Trabalhador. O tempo, o clima e o mau uso obrigaram reformas, algumas equivocadas. Cinco quadras foram construídas, e não utilizadas, e o mato as cobriu. Depois, foi feito um antiestético ginásio poliesportivo, onde se vê certa movimentação.

No lado direito, foi criado o Zoológico Municipal, para abrigar 140 animais, entre répteis, aves e mamíferos. Fechado há dois anos, devido ao vandalismo, em janeiro de 2019 teve seu direito de uso concedido pela prefeitura, para virar um centro de triagem de animais.

Mais de uma vez, enchente inundou o espaço dos macacos, levando jacarés para locais distantes. A grande seca de sete anos, apesar de novas árvores num bosque fechado, e adequada cerca viva sobre a grade, fez a lagoa secar. A falta de critérios técnicos adequados favoreceu o assoreamento. Passou por obras, mas não foi feita ampla dragagem da lagoa. A nascente, ao lado da BR 365, está em perigo permanente devido ao descarte de entulho e obras próximas.

Fotogênico, o Parque Municipal permite excelentes fotos, especialmente em noite de lua cheia, com sua lagoa ladeada pela recente ecopista de iluminação verde. Com o desejo de preservar para ter, o Parque Municipal maduro, em seus 50 anos, exige atenção sistemática, por ser a melhor memória afetiva da cidade.

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