Se tem uma coisa que o brasileiro aprendeu com a vida — e não foi na escola, porque lá só tinha giz e falta de giz — é que tudo que vai pro bolso do povo vai devagar. Mas o que vai embora do bolso do povo... vai de jatinho.
Agora me aparece o governo dizendo que vai devolver o dinheiro roubado de aposentados e pensionistas. Ah, que beleza! Palmas! Toca a música da vitória, mas bem baixinho, pra não acordar a realidade.
Estão prometendo devolver o que foi tirado — sorrateiramente, na surdina, no cantinho do contracheque — por entidades de nomes mais suspeitos que agiota de terno branco. Cobranças que ninguém pediu, ninguém autorizou, mas que todo mês estavam lá. Uma taxa aqui, uma contribuição ali, uma “mensalidade associativa obrigatória opcional compulsória”. Tudo feito com o carimbo da legalidade. Claro! Aqui no Brasil, a lei é como carteira de estudante em balada: serve pra quase tudo e quase sempre é falsificada.
Por anos, entidades “representativas”, sindicatos de fachada e associações de nomes desconhecidos apareciam no contracheque do INSS com siglas obscuras, cobrando mensalidades que os beneficiários muitas vezes nunca autorizaram conscientemente. E o mais grave: tudo isso acontecia com anuência, ou pelo menos negligência, do próprio sistema público que deveria proteger o segurado.
Agora, o governo anuncia que irá devolver esses valores. É um gesto correto, sim, mas não é favor — é reparação mínima diante do estrago moral e financeiro. Por trás de cada centavo roubado havia um remédio que deixou de ser comprado, uma conta que virou dívida, uma comida que não chegou à mesa.
E os culpados? Ah, os culpados! Onde estão? Presos? Investigados? Que nada. Estão por aí, provavelmente dando consultoria sobre como descontar dinheiro sem encostar em ninguém. Se fosse o contrário... se o aposentado devesse dois centavos pro INSS, já estava com o CPF cancelado, o nome no Serasa e a alma penhorada.
Então me diga, caro leitor: pra que serve o Estado, se nem pra proteger quem já pagou a vida inteira ele serve? O aposentado brasileiro é tipo aquele cliente que já pagou o almoço, mas continua esperando a comida.
Devolver parte do que foi tirado é o mínimo. Mas o Brasil precisa de um sistema em que roubar o aposentado não seja tão fácil, tão comum e tão impune.
Enquanto isso, a população assiste. Torcendo para que o respeito ao idoso no Brasil não seja só discurso de campanha — mas prática permanente de Estado.
Jornalista/Radialista/Filósofo
Pós Graduado em Gestão Escolar
Pós Graduado em Ciências Políticas
Pós Graduado em Mediação e Conciliação
MBA em Gestão Pública