A Lava Jato não mostrava o brilho de antes, mas reinava na tela. Foi quando ganhamos a nossa cachorrinha Frida, que bebia muita água e fazia xixi a toda hora. Colocávamos jornal e ela molhava tudo. Meu filho comentava: está vazando mais do que delação premiada da Lava a Jato. Dependendo do momento político, confissões escolhidas chegavam ao conhecimento público, como também informações da escuta telefônica autorizada.
Nas novelas há o expediente usado ad nauseam: ouvir por detrás da porta. As grandes revelações acontecem ali, seguidas por reviravoltas no enredo, após das intrigas. No tempo do telefone fixo e da extensão, muitos invadiam a conversa para bisbilhotar segredos, que de outra forma não seriam conhecidos.
Quando sozinha a pessoa se revela. Adota hábitos e ações que não admite executar nem em família. Algumas vezes pode censurar até o próprio pensamento. Um sonho, cujo enredo quem está sonhando condena por afrontar suas convicções morais, quando acordado, a memória não armazena.
O verniz civilizatório vindo da família e da escola doma comportamentos selvagens ou pretenderia domá-los. A educação ensina a controlar impulsos. Não se pensa tudo que se fala (impulsividade) e nem se fala tudo o que pensa (autodomínio). Sem verdadeiramente dissimular, é possível filtrar e definir a conveniência de dar aquela informação. Dependendo do interlocutor, escolho as palavras e o nível de exposição que quero ter. No recesso do lar, os desabafos podem se exceder, coisa que não faço em situações sociais.
Na internet, a língua e o dedo se soltam. O que eu penso sobre aquela pessoa? O que eu penso sobre mim mesma é próximo do que pensam sobre mim? Quem eu sou de fato? Aquela pessoa está falando o que sente, ou representa um papel? Falar a verdade, aqui e agora, me convém? Respondendo: é uma boa gente. Tenho limitações, mas também superações. Sobre o outros, para saber o que verdadeiramente pensam, só com a escuta telefônica ou gravações vazadas ou escutar atrás da porta. Muitos criam personagens para se esconder, mas, cuidado com as câmeras de segurança.
O tanto que uma escuta secreta é explosiva, está claro, é o seu conteúdo. Gente de perto, e agradável em momento pacífico, pode pensar de você coisa diferente quando há divergências. Não é paranoia, não é esquizofrenia, é a realidade do mundo virtual. A tecnologia falha sem explicação e pode causar vazamento de conversas. Ouvir tais áudios é o caminho da destruição, pois mostram a face feia da verdade: aquela que fere.
Estranha sensação ouvir uma declaração sobre mim, não direcionada a mim, dita para outra pessoa após um momento de discórdia comigo. A raiva vem desnudada em palavras fortes, enquanto o calor causado pela descarga hormonal invade todo meu corpo de ouvinte clandestino, mas não intencional, fazendo vermelho o meu rosto e gelando a minha alma. A conta apresentada pela verdade é uma baixa conta. E esta, sim, é real e sem disfarce. A má surpresa desagrada, é parcialmente superada, ficando estragos e a certeza de que o que pensam de mim, o que penso que sou e o que realmente sou são universos diferentes.