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O “peso Cinderela”

Jean Eldin*
Publicado em 30/09/2024 às 19:42.

Há quase duas décadas, repercutiu no mundo inteiro as iniciativas do governo japonês para barrar o aumento da obesidade no país, apesar de a região ter uma das populações com o menor índice do problema entre as nações mais ricas do mundo - apenas 3,7% dos japoneses se encontravam acima do peso. 

Entre as medidas, as leis Shuku Iku, voltada à educação alimentar das crianças e ao desenvolvimento de cardápios saudáveis nas escolas, e a Lei Metabo, que estimula adultos entre 40 e 75 anos a fazerem uma medição anual da circunferência abdominal (com o incentivo de empresas e administração pública). 

Mas, na contracorrente desta campanha, na outra ponta do iceberg, está uma outra grave questão. Muito recentemente, a “BBC Brasil” publicou uma matéria que abordou como o aumento do número de mulheres jovens abaixo do peso se tornou um grande problema de saúde naquele país e tem demandado medidas do governo. É a busca pelo chamado “peso Cinderela”. 

O termo teve origem no Japão e implica um Índice de Massa Muscular (IMC) abaixo de 18 - é considerado um peso dentro da normalidade o IMC entre 18,5 a 24. Novamente, o país é o único de alta renda do mundo com predomínio de mulheres nesta situação. Níveis semelhantes são encontrados apenas entre os lugares mais pobres do planeta. 

Influenciadas por celebridades na internet e, muitas vezes, até mesmo pelos pais - que seguem a premissa de que ser magro é um padrão de beleza na cultura japonesa -, essa parcela feminina vem sofrendo com a desnutrição. 

Pesquisa realizada pela Fujita Health University aponta que 32% das participantes investigadas relataram pular o café da manhã e 50% tinham baixa diversidade alimentar. A ingestão insuficiente de energia, carboidratos, fibras, cálcio e ferro foi observada em 90% das pacientes, e deficiências de vitamina B1, B12, D e folato foram diagnosticadas.

O problema com a condição do “peso Cinderela” é que, embora não pareça tão ofensiva, é potencialmente complicada pelos riscos associados à subnutrição, que incluem anomalias menstruais, infertilidade e osteoporose. Além disso, as crianças nascidas de indivíduos com baixo peso têm também baixo peso ao nascer, o que aumenta o risco de desenvolver diabetes e doenças cardiovasculares no futuro. 

O cenário enfrentado do outro lado do mundo serve como lição a todos nós. A busca por padrões irreais de corpos é um risco não apenas para a saúde mental, como já comprovado em inúmeras pesquisas, mas também para a saúde física. E nos aponta que o equilíbrio é o caminho mais correto a ser seguido. A conscientização nutricional, aliada a uma dieta balanceada, podem ajudar a prevenir complicações e melhorar a saúde das mulheres jovens não só no Japão, como em todo o mundo. 

Se você está com dificuldades ou se sentiu afetado pelas questões citadas nesta coluna, busque auxílio. A orientação e a ajuda de profissionais da área da saúde podem te ajudar. 

*Nutrólogo

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