O fim de ano se aproxima, e o varejo online brasileiro já reflete o frenesi que acompanha as festas natalinas. A previsão de 36 milhões de transações nas lojas virtuais e um faturamento de R$ 23,3 bilhões é mais do que um número impressionante. É uma convocação. Convocação às empresas, para que demonstrem que o comércio eletrônico pode, e deve, ser mais do que um ambiente de lucro. Deve ser um espaço de respeito ao consumidor.
O crescimento do e-commerce não se sustenta apenas nas promoções e nos algoritmos bem calibrados. Ele repousa, sobretudo, na confiança de quem compra. A pesquisa mencionada, que destaca frete grátis, qualidade e preços justos como os fatores de atração, não deve ser tratada como um manual frio de estratégias, mas como uma declaração clara das necessidades do consumidor. Respeitá-las é a base de qualquer relação comercial ética e duradoura.
Nos tempos atuais, em que desafios econômicos pesam sobre os ombros de milhões de brasileiros, o investimento em produtos natalinos simboliza mais do que consumo: representa a tentativa de manter viva uma tradição de afeto, partilha e esperança. Quem compra uma ceia ou um presente para um ente querido não o faz apenas pelo objeto ou pela comida, mas pelo significado que carrega.
Cabe às empresas, especialmente neste ambiente virtual, honrar essa responsabilidade. A proliferação de ferramentas como o retail media e programas de benefícios evidencia o poder do comércio digital em moldar experiências positivas. Contudo, é imperativo que o foco não recaia apenas no lucro imediato, mas também na experiência do consumidor: clareza na oferta, compromisso com a qualidade e, acima de tudo, respeito às leis que protegem o cliente.
É preciso lembrar que o comércio não é uma relação de subordinação. É um pacto de igualdade, onde aquele que oferta e aquele que compra têm direitos e deveres. Qualquer tentativa de enganar, omitir ou explorar a fragilidade de quem confia em um clique é uma afronta ao próprio princípio de justiça que deveria reger toda transação.
Não podemos nos iludir com o sucesso das cifras. Ele só será verdadeiro se construído com retidão. Empresas que lucram às custas da boa-fé do consumidor traem não apenas os seus clientes, mas também a confiança no próprio modelo de negócio. E consumidores insatisfeitos não apenas deixam de comprar; eles disseminam a desconfiança.
O Natal é uma celebração de valores humanos universais: solidariedade, esperança e generosidade. Que o comércio virtual, em sua escalada de crescimento, saiba honrar esses valores, para que o presente que entrega não seja apenas um produto, mas também uma mensagem de respeito e consideração por aqueles que, com um clique, sustentam o mercado e a dignidade das relações humanas.
*Jornalista/Radialista/Filósofo