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O Brasil que vende café caro e amargo para seu povo

Gregório José*
Publicado em 12/11/2024 às 19:00.

É um daqueles mistérios brasileiros: um dos maiores produtores de café do planeta, o país que sustenta suas madrugadas e tardes com xícaras fumegantes, cobra dos seus próprios cidadãos como se o café fosse importado a peso de ouro. Chega a ser uma ironia amarga – literalmente. O Brasil, responsável por quase 40% da produção mundial de café, faz com que o seu povo pague caro, muito caro, para tomar café. E não estamos falando do blend especial, torrado e moído com carinho; estamos falando daquele pacote de meio quilo do extra forte, que, na real, deveria vir com um alerta: “Alto teor de casca, graveto e outros ingredientes secretos.”

Vamos ser francos: por aqui, pagar caro por um produto premium já não é surpresa. Mas pagar caro pelo refugo? Essa já é outra história. O consumidor brasileiro abre a carteira para pagar um valor salgado por um café que nem deveria ter esse nome, porque o que vem nele é uma mistura que não passaria nos testes de qualidade de nenhum país que se preze. E enquanto isso, as melhores sacas, aquelas que são puras, sem casca ou graveto, vão diretas para fora do país, para gringos que, por ironia, pagam menos pela qualidade do que nós, os nativos, pelo “mais ou menos”.

Agora, tente explicar isso. O café, símbolo nacional, aquele que deveria estar em cada mesa como item essencial, virou quase artigo de luxo em muitas casas. E nem adianta a desculpa da safra, da seca, do dólar, porque, convenhamos, essas desculpas já estão mais passadas que coador de papel usado. O preço do café só sobe e, na mesma velocidade, a qualidade desce. Parece até combinado – quem quer café bom, paga o preço de um jantar. Quem quer o resto, paga, mas continua pagando muito. Aqui, em um dos maiores celeiros do grão, beber café bom virou questão de poder aquisitivo.

Por que o consumidor brasileiro tem que engolir essa, de pagar caro para tomar um café que parece mais um coquetel de restos? A resposta é simples: porque dá lucro. Enquanto o mercado internacional chora por um café de qualidade, aqui, no país que tem a taça cheia, o consumidor fica com a sobra. E aí, se quiser tomar um café digno, é melhor fazer as malas, porque até fora do Brasil dá para tomar café brasileiro com mais qualidade e, pasme, mais barato!

Estamos em uma situação onde o próprio Brasil vende aos brasileiros a preço de pepita de ouro o que, em qualquer outra realidade lógica, deveria ser o básico. Pior que tudo, o brasileiro já está acostumado a ser maltratado como consumidor. Vai tomando – o café amargo e essa política de preço travestida de abuso. Porque, ao que tudo indica, até a última gota de paciência, eles vão espremer.

*Jornalista/Radialista/Filósofo

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