Vamos falar de um tema que, se não é exatamente um conto de fadas, é, sem dúvida, uma viagem pelos labirintos da realidade brasileira: o mercado de trabalho. Se você está achando que tudo está se encaminhando para um final feliz, prepare-se para uma surpresa. A realidade, como sempre, tem suas peculiaridades.
A boa notícia é que as contratações estão em alta e o número de desempregados está diminuindo. Isso, de fato, é algo para se comemorar. Mas, convenhamos, no Brasil, as boas notícias vêm acompanhadas de uma boa dose de ironia. O quadro geral, que deveria ser um alívio, revela uma realidade bem mais complexa. Enquanto celebramos a queda do desemprego, a verdade é que o que se vê é uma proliferação de subempregos e informalidades que fazem parecer que estamos em um circo, e não no mercado de trabalho.
Profissionais com diplomas diversos, tão variados quanto os sabores de um cardápio internacional, estão sendo alocados em vagas que exigem menos conhecimento do que um manual de receita. Temos advogados que, em vez de lutar nos tribunais, estão se contentando com cargos de escriturário e secretário, recebendo salários que mal cobrem as despesas do mês. Isso por um salário que beira a insignificância.
Do outro lado do palco, temos uma classe de trabalhadores que virou o jogo. Pedreiros, marceneiros, eletricistas e encanadores estão fazendo cara feia para qualquer oferta de trabalho abaixo de R$ 7 mil. Parece que, nesse cenário, a classe operária está mais para “Guardião do Tesouro” do que para trabalhadores comuns. E, para agravar a situação, muitos estão sendo “convidados” a se transformar em Pessoa Jurídica. A promessa de flexibilidade e liberdade vem acompanhada de um preço alto: “você está contratado, mas antes, pague a sua parte”.
A economia informal está em festa. Serviços por aplicativos dominam o mercado e quem não é pizzaiolo, motorista ou entregador é uma raridade. O cenário é digno de uma peça de teatro onde os papéis estão trocados e as expectativas, distorcidas.
Com o fim do ano se aproximando, a expectativa é que surjam novas oportunidades – mas não se engane, elas são tão passageiras quanto o coelho branco da Alice. O comércio se agita, e quem tem o talento de transformar vitrines em obras de arte temporárias poderá se tornar um vitrinista cobiçado. Ao mesmo tempo, os trabalhos temporários para o Natal oferecem uma chance para muitos encherem os carrinhos de compras e presentearem a família. No Brasil, o Natal é quase uma Olimpíada de oportunidades temporárias.
No fim das contas, o mercado de trabalho brasileiro é uma mistura de conto de fadas e circo dos horrores. A empregabilidade é celebrada como um milagre, mas o caminho para a estabilidade ainda é repleto de obstáculos. Assim como no País das Maravilhas, onde tudo é possível e nada é exatamente o que parece, o mercado de trabalho brasileiro é uma grande peça de teatro onde todos estão atuando em seus papéis, alguns com mais glamour do que outros. Devemos, no entanto, manter o bom humor e continuar lutando, porque, no fim das contas, a vida no Brasil é mesmo uma grande comédia! E, no começo de cada mês, aumentamos um boleto a mais para pagar.
*Jornalista/radialista/filósofo