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Sexta-Feira,18 de Outubro
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O Brasil do futebol com Z e com S

Gregório José*
Publicado em 17/07/2024 às 19:00.

Ah, o futebol brasileiro! Essa paixão nacional que nos leva a discutir fervorosamente na mesa do bar, na fila do pão, e até no consultório do dentista. Mas há algo intrigante no ar: por que será que os jogadores do Brazil com Z – aqueles astros que brilham nos gramados europeus – não conseguem ganhar nada pela nossa seleção? Enquanto isso, os guerreiros do Brasil com S – aqueles que suam a camisa nos clubes nacionais – estão vencendo, marcando gols e enfrentando batalhas dignas de épicos?

Vamos aos fatos. Os jogadores do Brazil com Z vivem em um mundo de luxo e glamour. As estradas são lisinhas, sem um buraco sequer. A comida é digna de chefes estrelados no Michelin. E os salários? Ah, os salários! Ganham em euros, libras, dólares, e de vez em quando, um ou outro iene. Estabilidade é a palavra de ordem.

Já os heróis do Brasil com S encaram uma realidade bem diferente. Aqui, as estradas parecem ter sido desenhadas por um tatu-bola em transe. Os carros são mais temperamentais que certos técnicos em dia de derrota. E os jogos? São tantos que dá pra fazer uma tabela periódica só com os campeonatos. Bons clubes? Bem, quem nunca ouviu a expressão “engolir sapo”? Muitos aqui precisam escutar comentaristas mal remunerados que falam besteiras uma atrás das outras.

É claro que quem se esforça mais tenta ser melhor do que quem já está num bom local. No Brasil com S, nossos jogadores precisam driblar buracos, chutar pedras e, às vezes, até fazer gol de bico só para garantir a vitória. Cada partida é um novo teste de resistência física e emocional. A seleção natural darwiniana se manifesta em campo: só os mais adaptados sobrevivem.

Enquanto isso, no Brazil com Z, a maior preocupação do jogador é escolher entre um Château Margaux 2005 e um Romanée-Conti para o jantar. Não enfrentam o ônibus quebrado no meio do caminho para o estádio ou a bola murcha que insiste em desafiar as leis da física. Os treinos são em gramados perfeitos, e qualquer pancada no joelho é imediatamente tratada por um time de especialistas que faria inveja a qualquer hospital de ponta.

Aí está o segredo: o conforto embota o espírito de luta. Quem já está acomodado não precisa provar nada a ninguém. Mas aqui, no nosso Brasil com S, cada partida é uma oportunidade de mostrar valor, de garantir o pão de cada dia, e de quem sabe, ser notado por um olheiro europeu que levará o jogador para o conforto do Z.

Por isso convido o amante do futebol arte a, na próxima vez que vir um jogador do Brasil com S comemorando um gol após enfrentar uma maratona de jogos, lembre-se: ele está se esforçando mais porque precisa. E quando ver um jogador do Brazil com Z bocejando em campo, pense: talvez o caviar no café da manhã não tenha caído bem. No final das contas, a diferença entre o Z e o S é uma questão de conforto e desconforto – e quem diria que os buracos nas estradas e as bolas murchas seriam nossos maiores aliados na busca pela vitória?

*Jornalista/radialista/filósofo

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