A morte súbita em pessoas jovens, saudáveis e praticantes de atividades físicas, ou mesmo em atletas, deve ser levada muito a sério, e analisada de maneira crítica com embasamento em todas as evidências disponíveis, pois tem um impacto profundo na sociedade e no meio médico. Cerca de 50% das paradas cardíacas ocorrem em indivíduos que desconhecem a doença cardíaca subjacente.
Em relação as principais causas, existem dois grupos distintos. O primeiro é formado por pessoas com idade inferior aos 30 anos e o segundo composto por pessoas com idades acima desta idade.
Das causas de mortes súbitas em pessoas com idade abaixo dos 30 anos, predominam as doenças genéticas como as miocardiopatias e canalopatias. Em ordem decrescente de frequência, estão as miocardiopatias hipertróficas e todas as suas variantes; as anormalidades congênitas das artérias coronárias; e a ruptura da aorta ocasionada pela síndrome de Marfan ou Aracnodactilia.
Entre as causas menos comuns está o abuso de substâncias que podem levar a arritmias malignas como alguns medicamentos ou drogas ilícitas (cocaína, maconha, ecstasy, crack, suplementos nutricionais com excesso de cafeína, remédios para emagrecer que possuem em sua fórmula anfetaminas, hormônios, diuréticos e outros).
A displasia arritmogênica do ventrículo direito, o espasmo arterial coronariano e até mesmo o prolapso de válvula mitral também são causas raras de morte súbita. Por outro lado, em pessoas com idade superior, a principal causa de morte súbita é a doença arterial coronária.
Em homens assintomáticos com idades entre 30 e 55 anos, é possível identificar um aumento da doença arterial coronariana. Nestes casos, a realização de um teste ergométrico pode auxiliar no diagnóstico. Já exames mais complexos, como por exemplo a ecocardiografia, são indicados para pacientes com suspeita de alguma patologia, que torna a atividade física, um risco.
Lembro que a identificação de sintomas e a observação de fatores de risco podem evitar a morte súbita. Os sintomas são as palpitações, a dor torácica causada pelo exercício físico e a síncope (desmaios induzidos pelo esforço físico) e os principais fatores de risco podem ser as alterações eletrocardiográficas sugestivas de doenças – a insuficiência cardíaca com o comprometimento da função ventricular; a doença arterial coronariana; a hipercolesterolemia familiar (HF); o histórico familiar de morte súbita; e histórico clínico de síndrome de Marfan.
Portanto, aconselhar o afastamento de atividades esportivas a um paciente com propensão à morte súbita não o afastará do risco inerente aos esforços físicos diários.
Atualmente foi descoberto que desfibriladores implantáveis podem ser a arma mais eficaz para a prevenção primária e secundária de morte súbita em pacientes de alto risco. Isso porque a fibrilação ou a taquicardia ventricular são algumas das causas de morte súbita em pacientes com miocardiopatia hipertrófica ou aterosclerose coronariana grave.
*Cardiologista e especialista no tratamento das arritmias cardíacas