Vemos uma série de importantes evoluções no combate ao câncer, principalmente nos últimos 10 anos. A tecnologia traz uma precisão impressionante – e benéfica – para personalizar o tipo de tratamento, como a identificação de alterações genéticas do tumor, que permite administrar drogas específicas para cada caso. Novos equipamentos possibilitam apontar a radiação para o local exato das células cancerosas, preservando as saudáveis.
É o que chamamos de medicina personalizada: tratar de acordo com as particularidades do paciente e do câncer, traçando estratégias adequadas para aquele indivíduo. Assistir o paciente em todas as dimensões exige mais do que avançada tecnologia. Pede acolhida, carinho, apoio em sua jornada única. Enfim, humanidade.
E o Brasil tem uma oportunidade única para avançar nesta direção, a partir da sanção da Lei 14.450, que cria o Programa Nacional de Navegação de Pacientes para Pessoas com Neoplasia Maligna de Mama. A iniciativa estabelece o acompanhamento de casos suspeitos ou confirmados de câncer de mama, oferecendo uma abordagem individual pelos chamados navegadores de pacientes.
Essa experiência foi trazida para o Brasil de forma pioneira no cuidado de pacientes com câncer de mama pelo Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento, em 2003. A partir da identificação do paciente com câncer, ele passa a ser acompanhado por uma enfermeira, que estará ao seu lado em toda a jornada contra a doença.
Desde a implementação do programa, o tempo médio entre o diagnóstico e o início do tratamento caiu de 23 para 12 dias. O tempo médio para identificar a doença é de 270 dias, o que agrava o quadro do paciente, pois muitas vezes a descoberta se dá em estágios avançados. Temos hoje a Lei 13.896/2019, que determina a realização de exames de diagnóstico de câncer em 30 dias, e a Lei 12.732/12, que garante o início do tratamento em no máximo 60 dias após a identificação da doença. Prazos que precisam ser garantidos — e um programa de navegação pode ajudar a fazer isso acontecer.
Mais do que apenas investimento, qualificar a jornada do paciente com câncer no SUS passa por uma mudança de mentalidade: todos os profissionais devem ser parte dessa luta, oferecendo o cuidado e acolhimento necessários para cada um.
*Chefe do Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento e presidente voluntária do Instituto da Mama do RS (Imama)