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Esqueça uso do PMMA para plástica no bumbum

Felipe Villaça*
Publicado em 30/04/2024 às 21:22.

O bumbum é uma das regiões do corpo mais valorizadas pelos brasileiros em geral. Objeto de encantamento para os homens e sonho de consumo de muitas mulheres, ter um glúteo bem torneado foi o motivo pelo qual cerca de 200 mil pessoas recorreram a uma clínica de cirurgia plástica em 2022. O número representa algo em torno de 10% de todos os procedimentos estéticos realizados no país, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS, na sigla inglesa).

Aliás, essa paixão vai além das fronteiras nacionais. De acordo com a mesma entidade, somente entre 2018 e 2022, a procura pelas cirurgias de aumento de nádegas aumentou 137% em todo o mundo. Até 2028, estima-se que este mercado cresça 22%, elevando seu valor para a marca de US$ 1,5 bilhão. Parâmetros que corroboram com conceitos globais de beleza e autoestima.

A busca por melhorias estéticas nos glúteos é algo que a medicina oferece há muitos anos, mas que hoje vem acendendo um alerta importante para quem recorre a esse tipo de procedimento. A técnica de se aplicar enxertos, que ganhou o nome de brazilian butt lift devido à sua popularidade por aqui, e a aplicação de polimetilmetacrilato (PMMA), uma substância plástica parecida com o silicone, provocaram efeitos colaterais e mortes em diversos pacientes.

O PMMA, em particular, tem a liberação da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, somente para eliminar as rugas e recuperar pequenos volumes de tecido. Entretanto, não é recomendada para aumento de volume corporal. A mesma Anvisa, por sinal, classifica o componente como um produto de classe IV, que representa o mais alto grau de risco.

Ainda assim, curiosamente, a Anvisa é a entidade “mais aberta” ao uso do polimetilmetacrilato, uma vez que outras organizações, incluindo a própria Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), não recomendam a substância para uso estético. Antes de qualquer coisa, porque seu uso não oferece um nível de segurança suficiente para aplicação em quantidades maiores, como é demandado na região dos glúteos.

As reações do organismo ao produto são graves e irremediáveis. Elas variam entre inflamações, infecções, necroses e até morte. Um dos casos talvez de maior notoriedade foi o da modelo e jornalista Lygia Fazio, de 40 anos, que morreu no ano passado depois de enfrentar uma batalha de três anos para retirar o PMMA do seu corpo após fazer uma aplicação nos glúteos. Outra morte mais recente foi a de uma mulher de 60 anos, em março deste ano, em Belo Horizonte.

O que muitas pessoas que sonham com o bumbum perfeito precisam compreender primeiramente é que o veto à substância não inviabiliza a possibilidade de um procedimento estético no bumbum. Há próteses de silicone mais adequadas ao preenchimento e até o uso de gordura do próprio corpo do paciente. No entanto, é fundamental que a técnica adequada seja escolhida por um profissional habilitado, e que jamais se considere a hipótese de buscar uma clínica clandestina. A saúde, muito mais do que a estética, deve estar em primeiro lugar.

*Cirurgião plástico da FVG Cirurgia Plástica

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