Escola é essencial para uma cultura de paz

Anita Abed*
29/03/2019 às 06:56.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:00

Uma reação imediata diante do ato de violência na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), é nos perguntarmos por que a escola tornou-se o local de uma tragédia em que dois adolescentes atiraram contra colegas e educadores da instituição de ensino onde estudaram, além de tirar as próprias vidas. Fatos como esse, ou o que aconteceu há alguns anos em Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, o funcionário que colocou fogo na creche, em Janaúba (MG), os feminicídios, as perseguições e as discriminações que assistimos no dia a dia, são expressões de violências que, em última instância, demonstram que não aprendemos a valorizar nem a conviver com as diferenças.

Após o massacre de Suzano, é urgente mostrar qual é o papel da escola na prática da cultura da paz, a fim de evitar situações como o bullying e a discriminação. Cabe à escola ser um espaço de promoção de experiências para que os alunos possam refletir, conhecer-se melhor, cuidar de si e do outro, escutar e partilhar a vida, lidando melhor com suas forças e fraquezas, com suas potencialidades e com suas dificuldades, tanto as suas como as dos outros.

Nesse sentido, a escola é um território de circulação de afetos, de ações e reações que afetam a comunidade educativa: estudantes, professores, funcionários, familiares. É palco da expressão de problemas socioemocionais, relacionais e psicológicos e também é um cenário de aprendizados éticos, estéticos, sociais e afetivos.

Vivemos em tempos líquidos, de relações superficiais, como já apontou o sociólogo Zygmunt Bauman. As redes sociais parecem camuflar a realidade sob um filtro cor de rosa, em que todos estão se divertindo o tempo todo, muitas vezes expondo ao mundo imagens distorcidas do que é vivido. É grande o desafio das escolas e das famílias para educar e desenvolver homens e mulheres que saibam o valor das diferenças na sociedade. Claramente, devemos nos empenhar por uma mudança de paradigma em favor da cultura de paz, que deve ser cultivada na sala de aula e na sociedade, incluindo em todas as interações o respeito à diversidade.

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) já caminha nessa direção. As dez Competências Gerais propostas pelo documento preocupam-se com a promoção do respeito às diferenças e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, assim como o cultivo de valores sociais e éticos para o bem comum. Acreditamos que por meio de ferramentas lúdicas, por exemplo, crianças e adolescentes aprendam a nomear seus sentimentos e saibam como lidar com as emoções do próximo.

Para isso, os professores e as famílias devem ser orientados a mediar as situações vividas na escola e em casa. É necessário um esforço conjunto, uma integração entre escola, família, comunidade, poder público nesse percurso. A escola é o maior espaço de convivência ética e congregação que encontramos na infância e juventude. Não podemos pensá-la como a salvação de todos os males, mas sim como um espaço privilegiado para a construção de pessoas melhores e de uma sociedade mais solidária e justa.

*Psicopedagoga, integrante da equipe pedagógica da Mind Lab. É psicóloga e consultora da Unesco

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