No longínquo 1977, ano em que, quem nele nasceu já tem 41 anos, um jovem casal em lua de mel há nove dias, sobe de carro o litoral do Brasil, saindo de Minas Gerais para Natal (RN). A viagem é uma festa de surpresas, descobertas, expectativas, amor e sexo. Qualquer lugar pode ser um pouso para aquela dupla que já se sente um só. Não há definição de roteiro nem agenda. Qualquer dia e qualquer hora são bons. Acordar às seis ou às oito h, almoçar às 11h ou às 14 h, dormir às 21 ou à 00 h, viajar 800 ou apenas 300 km no dia. Vale qualquer opção. Que maravilhas de juventude e paixão! Nada de pressa. A vida pode esperar. Tantos sonhos, tanta energia, tanto tudo.
O casamento na Catedral tinha sido cerimônia simples e magnífica, ao mesmo tempo. Era fácil casar, não sendo necessário complicar nem fazer dívidas. Não precisava impressionar ninguém. A simplicidade impera, até mesmo para quem pode gastar.
A singeleza toma conta das decisões daquela noiva. Passa a primeira noite no apartamento em que moraria, e parte no dia seguinte, rumo à Bahia e aos demais estados do Nordeste.
Saindo de Montes Claros, a dupla almoça em Taiobeiras. Dorme em Vitória da Conquista. No outro dia vai para Salvador, de lá para Aracaju, e então aporta em Maceió. Em cada cidade, fica o tempo de matar a curiosidade. Tudo é intenso naquele começo de verão. O sol, o calor, o cheiro, o sabor, a brisa do mar, o corpo magro, a energia e a felicidade.
Os hotéis simples à beira-mar, aquele vento trazendo o odor de maresia e de mariscos e todas as possibilidades que se descortinam para os apaixonados. O belo fica ainda mais belo. Os sentidos mais intensos, tudo parece mais forte, a captação de luz, de brilho, de sensações são maiores do que realmente são. Os sensores estão plenos, e todas as percepções atingem níveis estratosféricos.
Não há plano algum e o casal poderia chegar a Natal em qualquer dia. Então, no dia 24 de dezembro, sai para a praia, e de lá, estendido ao sol da capital de Alagoas, decide passar o Natal em Natal. De repente se torna uma necessidade estar com os parentes à meia-noite. Arruma tudo rapidamente, paga o hotel _ naquele tempo não é necessário fazer reserva _, e parte rumo ao Rio Grande do Norte. E ainda que Maceió fosse uma cidade relativamente pequena para os padrões das capitais do sudeste, não é fácil achar o rumo da BR-101. O jovem casal se perde, talvez devido à decisão de partir de uma hora para outra.
Está com fome, já bem depois do meio-dia. Então, procura um táxi. Roda algum tempo, e por fim, lá está o motorista, dentro do seu carro branco caracterizado. O casal emparelha o carro com o outro, o vidro é aberto manualmente e o serviço contratado: por favor, siga em frente e nos guie até a saída para Recife. O taxista assim faz, anda vários minutos de forma segura, olhando para trás e esperando o carro que o segue. Vai lento, garantindo a tranquilidade. Então chegam a um trevo. O táxi entra na BR, estaciona no acostamento e o outro carro emparelha com ele. Quanto é o serviço? Pergunta o marido. E o moço, acenando com a mão: Não é nada. Que vocês façam boa viagem! Feliz Natal!