Diante dessa palavra, derrama, a primeira imagem que me ocorre são os impostos da época do Brasil Colônia. Um quinto _ 20% _ do ouro e diamantes garimpados era entregue a Portugal, um imposto absurdo, que espoliava individual e coletivamente. Em Vila Rica, hoje Ouro Preto, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, dentista e militar com patente equivalente a tenente, junto com outros brasileiros, participou da Inconfidência Mineira. Queriam libertar o Brasil de Portugal. Surgiu a bandeira branca com um triângulo vermelho no centro e os dizeres em Latim: “Libertas Quae Sera Tamen” ou Liberdade ainda que tardia. Os revoltosos foram presos após a delação de Joaquim Silvério dos Reis, o traidor. Tiradentes foi assassinado em 21 de abril de 1792, aos 45 anos, sendo enforcado, esquartejado e seus restos mortais foram expostos pelos caminhos. Morreu no Largo da Lampadosa, no Rio de Janeiro, capital do país. Recuamos, pois hoje o profissional liberal paga 27,5% do que ganha.
Água, seja na torneira, seja na represa, também é uma imagem que me vem com a palavra derrama, porque, depois de sete anos de seca, rios interrompidos e reservatório a 15% de sua capacidade ( em 2015), é necessário ter consciência, gastar pouca água e exigir das autoridades investimentos que garantam quantidade suficiente do precioso líquido. A população cresce e Montes Claros tem pressa. Precisamos aprender a gerir bem nossos recursos hídricos. Chuva, chuva, chuva é do que precisamos, e que venha abundante e calma, sem inundações, sem prejuízos e sem hora marcada. Em todo momento, a boa chuva é bem-vinda. Trovões, raios rasgando o céu, pingos de amor, trazendo bons ventos, fartura, verde e frescor.
As bênçãos divinas são pedidas em todos os atos religiosos. Assim, os fiéis de todos os credos pedem que se derramem graças sobre elas, algo bom que as console.
Queremos arte, pedimos que se derrame sobre nós algo para nos humanizar, o belo para nos sensibilizar, convidar ao deleite e à contemplação, quer seja música, teatro, pintura, escultura, arquitetura, literatura, cinema, fotografia, quadrinhos, videogames ou arte digital. Que sejam derramadas, além de chuva líquida, chuva de arte melodiosa e muitas belezas para pacificar nosso assombrado coração. E que não se derrame sangue. Desejamos serenidade, harmonia e paz.
“Oh senhora liberdade, abra as asas sobre nós”, incluindo aí o derramamento de bons sentimentos como amor e solidariedade. Que se derramem sobre nós as virtudes, quantas houver. Para Platão as quatro virtudes humanas seriam prudência, justiça, fortaleza e temperança. As vivências fazem surgir essas virtudes, que complementam a personalidade.
E quando o mundo parece desabar em catástrofes embaladas pela falta de caráter e descartado o respeito, uma chuva de virtudes será bem-vinda: benevolência, justiça, paciência, sinceridade, responsabilidade, otimismo, sabedoria, respeito, autoconfiança, contentamento, coragem, desapego, despreocupação, determinação, disciplina, empatia, estabilidade, generosidade, honestidade, flexibilidade, humildade, misericórdia, introspecção. E que os justos sejam condecorados pelas suas inabaláveis fé e coragem.