Os dados recentemente divulgados pelo Panorama do Câncer de Mama, realizado pelo Instituto Avon em parceria com o Observatório de Oncologia, revelam uma realidade preocupante: a cobertura de mamografias para rastreio do câncer de mama no Sudeste entre 2021 e 2022 foi de apenas 22,1%, apresentando uma queda de 6,2% em comparação ao período de 2015 a 2016.
Esse índice está muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que preconiza uma cobertura mamográfica de pelo menos 70% da população-alvo para realização dos exames. No caso do Brasil, as mulheres entre 50 e 69 anos são o foco desse rastreamento.
É fundamental compreender que esses números não são apenas estatísticas, mas sim vidas em jogo. A detecção precoce do câncer de mama por meio da mamografia é crucial para aumentar as chances de cura e melhorar a qualidade de vida das pacientes. Segundo a OMS, 35% das mortes pela doença podem ser reduzidas se os exames de rastreio forem realizados regularmente, e as chances de cura chegam a 95% quando o diagnóstico é obtido em estágio inicial.
No período de 2015 a 2022, o Sudeste apresentou o maior número de casos novos de câncer de mama do país, com 168.637 registros, correspondendo a 45% do total nacional. São Paulo lidera esses números, com 12.613 notificações, seguido por Minas Gerais, com 7.333 casos. Além disso, a região também liderou no número de internações e pacientes diagnosticados com a doença, com 50,2% do total nacional.
É alarmante perceber que, apesar de liderar os números de casos, internações e diagnósticos, a região Sudeste está falhando em oferecer uma cobertura adequada de mamografias. Isso se reflete nos índices de tratamento, onde São Paulo e Minas Gerais se destacam por realizarem o maior número de quimioterapias e radioterapias no período analisado.
A pandemia de Covid-19 agravou ainda mais essa situação. No auge da crise sanitária, em 2020, houve uma queda significativa na realização dos exames de mamografia na região Sudeste. O Rio de Janeiro foi o estado mais impactado, com uma redução de 47,2%, seguido do Espírito Santo (46,4%), Minas Gerais (44,1%) e São Paulo (36,8%).
Diante desse cenário preocupante, é fundamental que as autoridades de saúde atuem de forma efetiva para ampliar e aprimorar a cobertura de mamografias na região Sudeste. Investimentos em saúde preventiva, campanhas de conscientização e a garantia de acesso igualitário aos exames são medidas urgentes e necessárias.
É preciso que todas as brasileiras, independentemente de raça, classe social ou local de residência, tenham acesso à informação sobre a importância da realização dos exames preventivos e, principalmente, que possam contar com uma cobertura de mamografia, diagnóstico precoce e tratamento adequado e oportuno de qualidade. Os números não mentem, e é nossa responsabilidade, como sociedade, garantir que todas as mulheres tenham acesso aos cuidados de saúde necessários para prevenir e combater o câncer de mama.
*Jornalista/Radialista/Filósofo