Cacife e cacifar

Mara Narciso*
09/04/2019 às 06:44.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:09

No pôquer, cacife é o dinheiro depositado pelos jogadores e reservado para as apostas. A cada dia, mais pessoas de pouco cacife e ainda de menor caráter trocam um companheiro de cacife médio por outro de cacife maior. Com isso, mostram-se capazes de vultosos ganhos sociais, financeiros e geralmente intelectuais, além de sugerir possível má índole. Estou imaginando os personagens para essa minha fala. Enquanto as carapuças vão servindo nas grandes e pequenas cabeças, de mentes certamente mínimas, afirmo que já fui trocada por outra mulher de outros quilates, mas, a despeito do despeito, depois de o tempo passar, a situação desastrosa da época se mostrou um alívio.

Persiste o hábito incentivado pela sociedade de homens de 60 anos ou mais com mulheres de 30 anos ou menos. Segundo meu filho, isso é reflexo da Síndrome de John Wayne, o mocinho dos filmes de faroeste e de lá para cá se tornou obrigação de homem bem sucedido desfilar com mulher nova, bonita, de classe social, cultural e econômica vários patamares abaixo das dele.

Há machistas afirmando que a diferença entre prostituta e mulher pobre e bonita casada com homem velho e rico é questão de abrangência. Uma atua no coletivo, e a outra age no particular. Mesmo não gostando da comparação, essa visão grosseira e porco chauvinista se adequa a situações sociais específicas, inclusive a personalidades atuais e pretéritas.

Pessoas procuram coisas diferentes quando buscam companhia amorosa. Podem ser juventude, sexo e beleza ou ser maturidade, sexo e conteúdo. Os feios garantem ter um algo mais, e os belos e jovens estão com tudo, e, supervalorizados, podem fingir subserviência no começo para, depois, sedutoramente dar as cartas e inverter o jogo.

As redes sociais ampliam as possibilidades amorosas para quem as procura, o que tem apavorado os celebrantes de casamentos, diante dessas tentações, verdadeiras avenidas para a infidelidade. Porém, o amor existe, e, segundo soube recentemente, não envelhece. Tem quem ame hoje e continue nesse estado de graça anos depois. O melhor dos sentimentos também não saiu de moda, podendo ser duradouro e desinteressado, como são as boas amizades. No entanto, estamos habituados e nos fixar nos desastres.

Quem sabe o que procura entenderá o que encontra, descartando o improvável e abraçando o possível. Aceitar os defeitos da outra pessoa nada garante. Quem aceita tudo, se desvalorizando, será trocado por alguém de maiores posses física, financeira, social e intelectual. Retiro o adjetivo intelectual que, na verdade, afugenta homens e mulheres. Sentimentos e interesses nem sempre podem ser explicados. Também entre pessoas, vale a surrada lei da oferta e da procura. A partir do momento em que alguém paga um preço, o produto/serviço passa a ter aquele valor. A valorização cacifa – enche de dinheiro – aquela pessoa. Na sequência outros pagarão um preço igual ou maior. Também no mercado amoroso isso acontece. Quando aparece alguém, logo surge outra pessoa.

Poucos se agarram a valores antiquados, especialmente em se tratando de clientela mais experiente. Enquanto a velha Terra gira (ela não é plana), ainda é novidade, mas gente muito madura está subindo ao altar (ou indo ao cartório).

*Médica e jornalista

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