Maria chegou ao Inhotim com olhos brilhantes e um coração cheio de expectativa. Aos 19 anos, a brumadinhense carregava o entusiasmo da juventude e o peso das dúvidas típicas de quem está apenas começando a descobrir o mundo. Era sua primeira vez em um museu, e cada passo pelos jardins parecia ampliar seus horizontes. “Nunca pensei que esse lugar fosse para mim. Sempre achei que museu era coisa de gente de fora, gente que tem dinheiro”, desabafou, enquanto admirava uma obra que, para ela, parecia falar diretamente com seus sonhos e inquietações. “Mas hoje eu vi que estava muito enganada”, completou.
A experiência de Maria é um espelho da realidade de milhões de jovens brasileiros. Um reflexo de um país onde, muitas vezes, a arte ainda é vista como um privilégio de poucos. Esse distanciamento não surge por acaso. Uma nação que é marcada por desigualdades profundas, o acesso à cultura se torna uma jornada cheia de barreiras: transporte, custo, informação e a própria ideia de que museus são espaços elitizados.
Mas quando atravessamos essas barreiras, descobrimos que a arte pode ser um portal. No caso do Inhotim, esse portal está localizado em Brumadinho, a pouco mais de uma hora de Belo Horizonte, mas parece levar seus visitantes a um universo completamente novo. Desde sua inauguração, em 2006, o Instituto não é apenas um destino cultural reconhecido internacionalmente, é também um ponto de transformação local.
Cerca de 80% dos colaboradores do Inhotim são moradores da região de Brumadinho, muitos deles jovens como Maria, vivenciando ali seu primeiro emprego e vislumbrando um futuro antes inimaginável. E o impacto vai muito além disso.
Os programas educativos do Inhotim desempenham um papel crucial nesse processo. Eles envolvem estudantes, professores e artistas locais, conectando a arte ao cotidiano. Para os jovens, como Maria, que participam dessas iniciativas, o impacto vai além da sala de aula ou das galerias do museu. É uma experiência que ressignifica o que é possível sonhar e alcançar.
Ainda assim, os desafios para democratizar a cultura são significativos. É preciso persistência, criatividade e investimento para aproximar a arte de quem mais precisa. Iniciativas como exposições ao ar livre, museus itinerantes e parcerias com escolas públicas são fundamentais para que histórias como a de Maria se multipliquem. Mais do que levar as pessoas à arte, trata-se de levar a arte às pessoas, criando conexões que fortalecem identidades e ampliam possibilidades.
A essência desse movimento está na compreensão de que arte não é luxo, e sim é essencial. Ela nutre o espírito, promove conexões, amplia nossas percepções e nos dá ferramentas para reinterpretar o mundo ao nosso redor. A arte é uma necessidade humana que transforma e inspira, criando novos horizontes para todos.
O que Maria encontrou no Inhotim foi mais do que um museu. Foi a possibilidade de descobrir um mundo novo a partir do quintal de casa. E, assim como ela, cada José, Ana ou João espalhados pelo país merece ter essa experiência. Merece sonhar, criar e encontrar na arte um motivo para ver a vida com outros olhos. É, a arte tem esse poder. De transformar. De inspirar. De fazer o mundo – e cada um de nós – um pouco maior.
*Diretora Executiva de Finanças, Pessoas e Estratégia (CFO) no INHOTIM