Se antes a aposentadoria era aquela certeza tranquila de ter o benefício caindo todo mês, agora virou mais uma batalha campal entre bancos. O INSS resolveu dar uma mexidinha no jogo e organizou um verdadeiro leilão para ver quem vai ter a honra de pagar o primeiro benefício ao novo aposentado. Isso mesmo, leilão! Só faltou o leiloeiro gritando: “Quem dá mais pra receber o novo velhinho?”
E a disputa foi feia. No ringue dos bancos, vimos a Crefisa partir pra cima e abocanhar quase todos os lotes. Só sobrou um pedacinho pro Mercantil, que não se deu por vencido e ficou ali, pegando o restinho do bolo (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). Porque, vamos combinar, ninguém quer perder a chance de ter uma multidão de novos clientes na fila esperando pra ouvir: “Senhor, aceita um consignado com descontinho na folha?”
A proposta do INSS foi até bonita no papel: “vamos aumentar a concorrência e beneficiar os consumidores!” O resultado? Uma espécie de “joga os aposentados pros bancos, e quem pagar mais leva”. Mas é claro que essa generosidade tem um preço, e quem tá pagando a conta são os próprios bancos, que desembolsam uns bons trocados para garantir a clientela. Afinal, imagina o lucro do Governo: R$ 82 por cada novo aposentado que atravessar a porta com aquela cara de “o que que tá acontecendo aqui?”. Pode parecer pouco, mas multiplica isso pelos milhares que se aposentam todos os meses... Faz até qualquer instituição financeira salivar.
E tem mais: não é só ganhar o cliente, é ganhar a preferência. E é aí que entra a sacada do empréstimo consignado. Porque, se o velhinho entrou, se acostumou, pegou confiança, logo, logo aparece um gerentão simpático dizendo: “A gente facilita pra você, senhor. Que tal uma graninha extra com aquele descontinho direto no seu benefício?” Não é à toa que a briga pra ter a conta do aposentado é ferrenha. Não é só o primeiro pagamento, é a possibilidade de oferecer empréstimos, seguros, consórcios e o que mais der pra vender. O lucro é garantido!
Enquanto isso, o INSS, que não é bobo nem nada, tá ali no canto, só contando as moedinhas que essa operação toda vai render. A estimativa é arrecadar bilhões nos próximos anos, e os bancos que se matem para ver quem vai cuidar da folha de pagamento. A disputa já valeu até briga na Justiça. Porque, claro, sempre tem um banco que se sentiu prejudicado e correu pra apelar. E olha, se banco tá brigando na Justiça, pode ter certeza de que o assunto é dinheiro. E muito.
O aposentado, coitado, é aquele que nem sabe que tá no meio desse cabo de guerra. Ele só quer garantir que o benefício vai cair direitinho, sem surpresas desagradáveis. Mas, a partir do ano que vem, o novo aposentado vai ter que ficar esperto. Recebeu o primeiro pagamento no banco que ganhou o leilão? Beleza. Mas, se não gostou do atendimento, das taxas, ou da cara do gerente, pode pedir transferência pra outro banco. Só que precisa ir lá, pedir, esperar, preencher papéis. Porque nada é fácil, não é mesmo?
A lição é clara: “aposentados, abram os olhos! Aprendam a jogar esse jogo financeiro. Não deixem que taxas sorrateiras e propostas tentadoras mas complicadas levem uma fatia do seu merecido descanso. Se precisar trocar de banco, troque”. Se achar que o consignado tá bom demais pra ser verdade, provavelmente é porque não é. E quem sabe, lá na frente, até a Crefisa e o Mercantil aprendam que a concorrência saudável não é só dar o maior lance, mas também conquistar o cliente com honestidade e transparência.
O INSS vai ali, rindo à toa e contando as verdinhas que essa disputa toda vai render. E, no fim, quem diria que a aposentadoria traria tanta emoção e correria? Quem se aposentar, fique de olho, porque a última coisa que vocês querem é que o banco ganhe mais que vocês nessa história.
*Jornalista/Radialista/Filósofo