A dimensão da cultura

Leila/Délcio
30/03/2019 às 07:03.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:01

Será que nossos governantes têm noção da importância de um poema na vida de uma criança, de um adolescente, de um jovem em formação? Será que eles têm um pequeno lapso de lucidez para compreender o quanto representa de valor no simples contato com a magia das palavras, com a sensibilidade das sílabas, com a intensidade dos acentos, com o mistério das reticências, com a virilidade das exclamações, com o colorido das rimas, com a incerteza das interrogações? Será que passa pela cabeça de um deles imaginar o quanto de civilidade se constrói quando se se abre o coração para o belo, para o sonho, para o encantamento, para o sublime, para o fascínio, para a contemplação, para o silencio, para o amor?

Será que eles têm um pingo de consciência sobre o que representa a música para calar nossas dores, para abrir portas para a excelência, para despertar talentos, para inspirar paixões, para enobrecer sentimentos, para lapidar espíritos, para fomentar bons costumes, para difundir o bem? Será que eles já pararam para observar o brilho nos olhos de uma criança diante de uma história contada em um livro, diante de um desenho em quadrinhos, diante de um conto de fadas, diante de um texto de personagens imaginários que fazem sua mente viajar sem limites por estradas, mundos e galáxias que povoam este imenso universo desconhecido?

Duvido que eles já pararam um minuto sequer para avaliar o valor que a cultura representa para a formação da cidadania de um povo, da real dimensão da cultura na formação de cidadãos de bem! Tenho certeza que eles jamais refletiram sobre o que está atrás de uma orquestra sinfônica, de um museu de arte, de uma oficina de pintura, de uma biblioteca pública, de um psiu poético, de uma galeria, de um jogral, de um corpo de baile, de um balé, da dança, do teatro, do artesanato, do folclore, das genuínas manifestações populares que construíram a história desta nação...

Tá na cara que eles não sabem que alguém capaz de tirar um acorde num violino será incapaz de empunhar um fuzil, jamais se tornará um menor infrator, um traficante de drogas ou um homicida... É evidente que eles desconhecem que um punhado de jovens jamais trocarão a oportunidade de entoar canções em um coral da comunidade por “arrastões” levando pânico e terror às pessoas... É óbvio que eles não conhecem o impacto que o acesso, a interação e o usufruto cultural têm sobre o desenvolvimento da personalidade, do caráter e do comportamento humano, determinando o padrão e a textura de sua relação com o próximo, com a sociedade, com os animais, com a natureza e principalmente consigo mesmo... Estou absolutamente convencido que eles não sabem que um povo sem cultura não possui autoestima!

Nossos políticos deviam cair na real e descobrir que mais do que pão e circo nosso povo e principalmente nossos jovens precisam é de mais incentivos, mais oportunidades e estímulos para despertar sua sensibilidade, sua amabilidade, sua gentileza, seu romantismo, seu otimismo, sua originalidade, seus pendores artísticos, sua cidadania! Então, o que fazer diante de cortes de verba para a cultura, extinção de sua pasta, fusão com outro ministério e outras manobras incompreensíveis que só denotam o desprezo com aquilo que realmente traduz a verdadeira essência e que eternizará nossos talentos que não se cansam de resistir! Poesia, meu caro... Esses canalhas não suportam poesia!

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