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Sábado,8 de Fevereiro

Aprendi e apreendi com quem convivi

Jornal O Norte
Publicado em 23/04/2010 às 09:32.Atualizado em 15/11/2021 às 06:27.

Alberto Sena *



O viver significa aprendizagem constante. Aprendo e apreendo coisas todos os dias. Ninguém neste mundo sabe tudo ou nada tem a aprender. O aprendizado por meio da leitura de um livro, por exemplo, é algo surpreendente. Se for obra-prima, então, pode-se aprender e apreender uma porção de coisas.



Livros como, por exemplo, “Os trabalhadores do mar”, de Victor Hugo; ou “Moby Dick”, de Herman Melville – só para citar dois, pois muitos outros há, evidentemente – são de um aprendizado fora do comum. Quem quiser aprender e apreender ensinamentos sobre baleia, “Moby Dick” é rico em informações do gênero.



Posso aprender e apreender muito no convívio com gentes. Uma pessoa sábia é como um livro aberto do qual jorra sapiência como numa cachoeira. Tive a sorte de conviver com pessoas do mais alto quilate: escritores, jornalistas, poetas etc., mas aprendi muito também com gentes simples, sem tanta instrução, pessoas autodidatas ungidas pela luz divina como porteiros, faxineiras; gentes alfabetizadas e analfabetas também.



É importante fazer “leitura de gente”. Isto eu aprendi com o falecido Leonel Brizola. Não tive nenhuma convivência pessoal com ele. Mas um dia li uma entrevista dele numa revista e em um dos trechos Brizola dizia: “venho de longe, faço leitura de gente”. Quem o conheceu sabe: isto é verdadeiro, pois o homem, inclusive, tinha um discurso convincente, apesar de muitos só terem reconhecido isto depois da morte dele.



Convivi com José Geraldo Gomes, conterrâneo desses montes claros, e o que dele apreendi pratico hoje ainda ao fazer entrevistas ou reportagens. Naquele dia em que com ele andava rumo à Redação do “O Jornal de Montes Claros” para ser apresentado como seu substituto, Gomes me repassou ensinamento basilar para elaborar o texto jornalístico, o “lide”.



Desde então – e lá se vão uns 40 anos – nunca mais tive a oportunidade de me encontrar com ele, pessoalmente. Foi por meio deste novo aprendizado, o de “cronicar” a memória das vivências aí no arraial, e graças ao dinamismo da internet, que, enfim, redescobri José Geraldo.



Ainda não sei onde ele mora. Não tenho o endereço nem o telefone, mas eis que recebo dele mensagem por ter lido o meu texto “Confesso que vivi”, título de um poema de Pablo Neruda, do livro “Para nascer nasci”.



“Alberto” – ele disse: “É evidente que temos muita vivência em comum, pois afinal nosso habitat foi o mesmo. E ainda há pouco, escrevi um soneto, em que dizia, “Confesso, com meus olhos, eu vivi.



“E vendo seu artigo, deste nosso tempo, percebi que realmente escrevi o que sentia, mas o que muitos de nós que vivenciamos esta fase áurea, na qual não inclui totalmente Itamaury, por ser mais novo, poderia perfeitamente ser o autor de minha poesia, pois reflete um sentimento que, ainda hoje, está presente em muitos de nós. Anexo, envio meu soneto para sua apreciação. Um abraço, José Geraldo Gomes”.



Com a devida autorização de Gomes, publico o soneto, “Olhar de Amor”, abaixo:



“Conheço todas as mulheres que me amaram;/ Ainda que na inocência de minha adolescência; / Pois seus segredos jamais se desviaram / De meus medos, sempre em efervescência./



“Na minha pureza tola, de rapaz menino; / Vi amor desabrochar em seus olhares; / Mas na minha intimidade de menino tímido, / Deixei muitos amores escaparem./Quantas vezes vi uma boca a me declarar, / Coisas de amor, que confesso, queria escutar,/ Sem mover os lábios, apenas com o olhar. /



“Hoje, meus olhos ao sorrirem envelhecidos, / Com as rugas cobertas pelo amor que senti / Confesso; com meus olhos; eu vivi”/.



Nesta oportunidade, aproveito para me dirigir a todos com os quais aprendi a me tornar o que sou. Não que eu seja lá grande coisa. Em primeiro lugar, agradeço a Deus. E abaixo Dele, agradeço a todas as pessoas com as quais convivi.



E se em meio aos que me leem neste momento tiver alguém da minha convivência no passado ou no presente, por favor, sinta o calor do meu abraço de gratidão, pois com todos aprendi. E apreendi...



* Alberto Sena é de Montes Claros (MG). Começou no Jornalismo aos 17 anos, na Redação do “O Jornal de Montes Claros”. Foi de repórter até editor no Jornal “Estado de Minas” nas editorias de Agropecuária, Meio Ambiente, Abastecimento e Economia. Trabalhou no “Hoje em Dia” e na “Gazeta Mercantil”. É Prêmio Esso de Jornalismo (Direitos Humanos) e Prêmio Fenaj de Jornalismo (Meio Ambiente). Como repórter, rodou o mundo. Fez duas vezes a pé o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

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