Tadeu Martins
Ninguém senão Cristo
resiste ao sofrimento
ou sofre calado e perdoa
o responsável pelo tormento
isto eu falo e provo
acompanhe o meu pensamento
Quando chega a semana santa
na Capital e no interior
o povo mineiro encena
pelas ruas com muito amor
o sofrimento de Jesus Cristo
Filho de Nosso Senhor
De uma destas encenações
eu vou falar agora
sei que faz bastante tempo
e aconteceu em Pirapora
o moço que me contou
lembra ano, mês dia e hora
O vigário arranjou os atores
que foram bem preparados
Jesus Cristo, Madalena, Pilatos
Maria, o bom ladrão e os soldados
todos estes personagens
estavam bem caracterizados
Havia movimento nas ruas
e pro povo não atrapalhar
puseram um cordão de isolamento
onde o cortejo ia passar
da porta da igreja até o calvário
onde a encenação ia acabar
O soldado que batia em Cristo
era o ator Sebastião
que havia entrado na sacristia
antes do começo da procissão
e tomado mais de litro e meio
do vinho do capelão
Ao invés de representar
ele ia batendo para valer
e o Cristo reclamava baixo
para o povo não perceber:
“Bastião pára com isso
pois tá começando a doer”
Madalena com uma toalha
limpou o rosto de Jesus
que reclamou do cansaço
causado pelo peso da cruz
e pela força das chicotadas
que estalavam nos ombros nus
Madalena ouviu a queixa
e cochichou com o soldado:
“O Chico tá pedindo
procê bater maneirado
porque senão depois da festa
a barra pesa pro seu lado”
Na subida do calvário
ouviu-se o grito da multidão
foi um tremendo corre-corre
pra presenciar a confusão
Jesus Cristo largou a cruz
e se atracou com Bastião
Trocaram socos e cabeçadas
como lutadores num tablado
veio a turma do deixa-disso
pôs cada um pro seu lado
Bastião perdeu dois dentes
e Cristo não foi crucificado.