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Sábado,28 de Junho

Analfabyte de pai e mãe

Jornal O Norte
Publicado em 09/06/2009 às 09:29.Atualizado em 15/11/2021 às 07:01.

José Wilson Santos


Jornalista


zewilsonsantos@hotmail.com



Passo atestado de ‘mané’, se for preciso, mas não tenho como negar: sou analfabeto digital, um desses caras – se é que existem outros - que não têm a mínima chance diante da modernidade tecnológica que exige manual de instrução de ‘trocentas’ páginas, por exemplo, pra acoplar o DVD à tevê e fazê-los funcionar sem riscos para a ‘rebimboca da parafuseta’.



Sou um desastre ambulante, mesmo em se tratando desta que é a mais primária das operações, segundo meu filhote, que aos 10 anos instalou o primeiro aparelho pra mim, quando o bicho ainda se chamava vídeo cassete, e me esnobou. O que me fez respirar aliviado: se o problema fosse burrice do degas aqui, o trem seria genético.



Isso não deixa de ter suas compensações, pois na qualidade de analfabeto digital não ligo a mínima pra tecnologia de ponta. Assim, não espicho o olho pros lançamentos quase diários de máquinas e equipamentos que são o sonho de consumo do resto dos mortais e custam os olhos da cara. Pra mim, ideal são aparelhos que tenham apenas dois botões: o que liga e o que desliga.



Foi assim com o celular, por exemplo. Só larguei do tijolão pré-histórico, primeiro lançamento interplanetário da Nokia, quanto o bicho apagou-se e não reacendeu nem a custa de reza braba. Tive de comprar outro, naturalmente, e a sereia cheia de dedos me empurrou um aparelho com rádio FM, que para minha tristeza, quatro meses depois, ainda não consegui fazer funcionar o rádio. Nem usar a calculadora, checar o calendário, o horário mundial, etc, etc e etc.



Resumo da ópera: acho que sou o único brasileiro analfabyte de pai e mãe.



Travo. Suo frio. Fico engessado diante da máquina. Dra. Leila talvez explique. Por isso só encaro caixa eletrônico se estiver acompanhado do meu amigo Brasil, que sabe tudo de caixas eletrônicos. Sozinho, minha experiência foi desastrosa. Chamaram o segurança pra me tirar da máquina. Depois de meia hora de peleja empedernida, tudo o que consegui da bichona foi uma frase no painel, toda cheia de intimidade: “Olá José, seja bem-vindo! É um prazer tê-lo conosco!” Grana mesmo que é bom, ‘necas de pitibiriba’.



Sofremos, nós os sem-tecnologia. Veja o senhor que até a porta do Itaú cismou de tirar sarro da minha cara. A baitola empacou comigo lá dentro. Fiquei entalado, mesmo tendo colocado no recipiente apropriado o celular, o molhe de chaves, o cinto e a medalhinha de São Tomé da Tecnologia, que deve ter cismado com minha cara e não tem me valido.



O segurança chegou rapidamente, com olhar desconfiado, a mão pousada displicentemente no cabo da arma, a exigir que abrisse a pastinha de trabalho. Mostrei, temeroso de que também me mandasse tirar a roupa. Não chegou a tanto, felizmente.



Desde então, antes de enfrentar a baitola chamo o segurança e mostro a pasta. Ele aperta um botão não-sei-onde e a porta me deixa passar, sem tirar sarro da minha cara.



Graças a Deus, ainda não é preciso manual de instrução pra chamar o segurança.

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