Ana Júlia - por Raphael Reys

Jornal O Norte
Publicado em 16/02/2007 às 12:17.Atualizado em 15/11/2021 às 07:58.

Raphael Reys



Ela veio das Alterosas, onde a mãe era modista. Hoje, com  somente vinte meses de idade e estando em pé, mais parece um guerreiro samurai, ou mesmo um lutador de sumo careca, em miniatura. Peito estudado para fora, queixo em pé, olhar desafiador. Uma valentinha.



Pronta para dar uma tapa, uma cusparada ou uma mordida em quem ousadamente cruzar o seu caminho. Às vezes bate com o pé da sandália! Só faltam pernada, chute e cabeçada no arsenal! Logo ela vai aprender esses movimentos marciais.



Quando chegou em nosso meio fazia frio. Mas só o tempo era frio, ela é quentinha. De pronto pregou um baita susto em todos. Engoliu um pequeno crucifixo. Levou-o à boca para beijar, e como é gulosa, passou no papo. Foi parar na Santa Casa, e levada pelo furgão da padaria Sabor Caseiro servindo de Samu (ela é a maior freguesa de biscoito logo pela manhã).



Vizinhos entraram em prece pedindo aos anjos por ela. Logo engatinhou e ficou rechonchuda. Rechonchuda, uma ova! Ficou uma massa de músculos elásticos que nem uma pavlova em cena. O primeiro nome de vizinho que pronunciou foi Dedé (o meu apelido em casa). E como tenho a cara de menino, me chamou para brincar, levando também a minha neta.



Quem ousa afrontá-la leva um teco na hora! Ela taca o braço no pé da orelha! Não manda para o bispo, a sua missa é de corpo presente. Quando briga, ou fica com raiva, mais parece o pugilista Sugar Rey Leonard rodopiando e escalavrando a pista do ringue em tarde de calor no Madson Square Garden.



Brincando de roda com a minha neta Maria Dalyssa, que é de



capricórnio, e com a vizinha Maria Isabel, de aquário, sendo ela  gêmeos, haja cristão para agüentar o barulho. Quem sofre é a agulha da radiola, que não pára de tocar no vinil bolachão, e a bigorna dos ouvidos, dois presentes.



Enquanto se diverte corre os seus olhos na fala das companheiras,



observando. Filma tudo! Está arquivando informação para ser usada quando ela abrir, na plenitude, a sua caixa de ferramentas. 



A última moda é chamar-me para colher laranja lima no quintal da sua casa. Descasco a fruta, sabor neutro pelo efeito pulgão, e separo em duas bandas. Uma para ela, outra para o cachorro Tobias. Ele é o chefe da matilha mista de cães e gatos. Eles são uns pretos e outros peludos furta-cor (o menor chama-se Porqueirinha), e os felinos, rajados com um filhote branco e



caramelo no meio. Cinco cães e cinco gatos, dez quadrúpedes, conjunto pra ninguém botar defeito! Um verdadeiro circo para mamãe Tina cuidar e suportar.



Barulho de três meninas falantes, e o rolotê da bicharada trançando de dentro para fora e vice-versa.



Fiz a sua crônica às quatro da manhã insone deste domingo 2007-02-11, enquanto escutava no fone de ouvido Whem It´s Steepy Time Dow Sout, passando pelo solo de bateria em Miss Blues e concluindo quando Luiz Armstrong solfejava em bebop The Bucket‘s Got A Hole Dream On.



Haja metal, repique ao estilo baixo New Orleans e blues!



Aí, adeus meu Vascão. É só o Galo que agüenta Ana Júlia!

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