Aline Luz - por José Geraldo Mendonça

Jornal O Norte
30/01/2007 às 10:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:56

José Geraldo Mendonça *

Aline desde criança já nos encantava, pois era diferente das outras crianças e nasceu pra brilhar e iluminar os seus caminhos. Para mim ela foi como um cometa deixou um rastro de luz por onde passou. Aline deixou rastros por aqui e nos encantou com a sua luz própria. Muitas vezes ela nos brindou com aquela sua voz maravilhosa, harmoniosa, potente e afinadíssima. Olhando aquele corpinho tão frágil não dava pra imaginar de onde vinha aquela voz tão possante.

Quando Aline tinha 13 anos eu a levei a Brasília DF. Lá em Brasília o meu irmão, o Dr. João Mendonça, nos levou a uma festa, no Catetinho, aquela construção de madeira que foi feita pra Hospedar o Presidente JK, e a colônia de Montes Claros estava toda lá. Aline cantou e encantou todo mundo. Lembro-me como se fosse hoje que ela cantou “Amo-te muito”, de João Chaves, e então foi aquele delírio. Mas como as coisas boas dessa vida são fugazes e passageiras e duram pouco. Só nos resta nos conformarmos com o plano de Deus e conservar as nossas boas lembranças que Aline Luz nos deixou.

Quando casei fui morar numa chácara, no Bairro Roxo Verde, e Aline gostava de ir sempre lá nos visitar acompanhada de Maria Inês Narciso, Lila Teixeira e outras meninas da sua idade. Elas brincavam e subiam nas arvores pra tirar frutas, mas sempre cantando como um bando de passarinhos. Naquela época eu e a minha esposa Nininha Narciso já nos preocupávamos em tornar aquele nosso ambiente em um paraíso para as crianças que nos visitava. Por isto a nossa chácara estava sempre cheia de crianças da nossa família.

Aline sempre nos brindou com a sua voz maravilhosa e suas canções favoritas. E quando ela ia coroar Nossa Senhora na Catedral, toda a família estava lá, encantada com os seus cânticos para a Mãe de Jesus. E emocionava a todos na hora de colocar a coroa na cabeça de Nossa Senhora, pois era ela que cantava sozinha os versos “Mãezinha do céu eu não sei rezar /Só sei repetir que quero te amar...” e era muito lindo, fazia a gente imaginar na porta do céu.

Quando ela começou a participar do Show de Calouros, no Programa Silvio Santos, na Rede Globo, nos anos 70, ela cantava todos os domingos até o final daquele ano e foi considerada vencedora. E não foi nenhuma surpresa pra ninguém pois quando menina participou de concursos de declamação no Colégio Imaculada e arrasou. Encantou todo mundo. Ela era simplesmente brilhante. Nasceu pra brilhar e irradiar toda energia que Deus lhe deu. Na abertura de um Programa Fantástico, da Rede Globo, ainda nos anos 70, ela apareceu cantando num mosteiro, no Rio de Janeiro, e foi uma imagem linda que ainda guardo em minha memória para sempre.

Eu tive a oportunidade de passar uma semana com Aline, Joana e Darlan lá em Três Marias, na casa de Tereza Mendonça e Caldeira. E foram dias inesquecíveis. Durante o dia pescávamos na represa e nas noites era aquele festival de lindas canções que ela dedicava a todos nós. Nesta viagem também foram as minhas irmãs Aparecida e Josefina. E hoje quero cultivar essas boas lembranças de Aline a quem todos nós amávamos. Pois Aline era assim: cara de anjo, de santa, de menina e quando defendia a natureza virava uma mulher, uma guerreira. E ela nunca mudou... e até no seu velório, todos falaram que estava linda.

É que ela foi muito bem cuidada pelo seu irmão Olavo e sua prima Raquel Mendonça. E ela cumpriu muito bem as suas tarefas nesta tão curta vida. Teve dois lindos filhos, Darlan e Joana (que por sinal é muito bela)... E encantou a todos que a viram cantar neste país.

O sucesso é que ficou devendo a ela uma verdadeira fortuna, só porque ela nunca aceitou entrar em nenhum esquema de gravadoras e empresários. Pois ela era independente demais pra aceitar essas convenções. Segundo o dicionário de musica brasileira Cravo Albim, em um texto escrito pelo Adriano Martins, ex-marido de Aline Luz, ela lançou 3 LPs, o primeiro LP se chama Aline, o segundo se chama Uma Face Outra Face e o terceiro Mares de Minas. Alem disso tem um CD de produção caseira (fundo de quintal), que se chama Na Rama da Alegria, mas que nunca foi incluído na discografia de Aline Luz, e 02 trabalhos inéditos em disco, sendo um com o Toninho Horta, o “Música de Minas”. Leu e viveu os melhores livros do mundo, especialmente “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa. Viveu uma vida Rosariana e amou a nossa flora e fauna do cerrado norte mineiro. E declamou os mais belos poemas do mundo.

Amou a independência total, geral e irrestrita, em todos os níveis e graus. Amou todos os amores que teve na vida. E foi contra todos os Governos e em especial aos ditadores. E tudo quanto é lei humana fosse qual fosse. Amava de paixão o Parque do Sapucaia, em Montes Claros, porque amava a natureza. E na última vez que nos encontramos, não conversamos sobre os nossos problemas pessoais, pois ela queixou o tempo todo do abandono do Parque do Sapucaia pela Prefeitura. Pois ela não aceitava aquilo. E ela morava ao lado do Parque. Não entedia tanto descaso da Administração Municipal coma a natureza.

Por tudo isto, Aline Luz vai viver para sempre em nossos corações. Mesmo depois do seu passamento, sua voz continua ecoando pelo Grande Sertão e Veredas e pelos nossos ouvidos através dos seus discos. E o meu filho Mendonça Júnior, mais conhecido como Penninha, tem todos os discos que ela gravou e tem ajudado a manter viva a lembrança de Aline. E têm buscado junto a pessoas amigas mais lembranças de Aline. E até participou de um programa especial na Unimontes FM sobre Aline, no Nossa Arte e Nossa Gente, com o Josessé Santos. E assim, por causa do seu primo Penninha, eu tenho o privilégio de ouvi-la cantando em minha casa. E eu não fui ao seu velório porque estava doente naqueles dias de outubro de 2003, mas me informei de todos os detalhes. E eu acredito que Montes Claros está devendo uma homenagem pra Aline Mendonça, a nossa Aline Luz.

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