Ai de ti, terra de Figueira! - por Raphael Reys

Jornal O Norte
Publicado em 27/02/2007 às 12:50.Atualizado em 15/11/2021 às 07:58.

Raphael Reys


 


Que desde o teu nascimento foste encharcada no pranto dos teus inocentes tropeiros, que foram e literalmente ainda há bem pouco eram sacrificados, para que não recebessem o pagamento; o salário pelos seus trabalhos braçais prestados a duras penas nas tuas fazendas de criação.



Por alguns dos teus ébrios coronéis de antanho, filhos do ego pavônico, que deram gargalhadas nas mesas dos teus lupanares e nos colos das tristes meninas, flores campesinas que foram seviciadas nas roças. E casadas à força com algum pobre lavrador.



Tuas noites, desde a famigerada construção da tua estrada de ferro, feita com objetivos militares dos imperialistas, que impulsionou para as tuas casas noturnas as damas da noite, escravas da lascívia, e os cavaleiros manipuladores das nove cartas de mandalas geométricas. Uma herança de luxúria, subserviência e impunidade. Uma escola de malandragem.



Na tua cegueira moral e espiritual estás hoje entregue às mãos de assaltantes ciclistas e mototaxistas que agem sob a inércia das vítimas e das autoridades ditas responsáveis, que aceitam o castigo sem nada reclamarem. Sem buscar uma ordem política e social. É cada um por si até que a aposentadoria chegue.



Esses teus filhos, bandidos a mão armada, montam cavalos de aço ao estilo Roller Ball, são filhos do seu carma espiritual. São os teus carrascos encarnados mandados pela providência Divina em missão retificadora. É a espada do teu Apocalipse.  Atores no palco do teu Armagedom. São os guardiões da dor dos inocentes que outrora foram escravizados e massacrados nas mangas de capim, e nos silos das tuas roças, à beira dos córregos.



Em detrimento de alguns dos teus filhos que impulsionaram o progresso das tuas escolas e universidades, na tua idade, era para teres um centro novo, em outro local, com largas avenidas e mais edifícios de concreto armado, indústrias, comércio atacadista, áreas de lazer, creches e jardins quando o que tens são favelas, com becos infestados, onde passam portadores de verminose. O teu centro comercial está invadido pelos sobreviventes da tua selva de concreto, com ruas afuniladas, sem um plano diretor e suas avenidas de escoamento esburacadas, onde teus despreparados filhos circulam em torno do cativeiro urbano. Não vivem, vagam vivendo por viver, e fatalmente em busca de uma dor ou de uma sofreguidão! Só desestímulo moral, social, filosófico e espiritual!



Os teus cursos de água são esgotos e transportam entulhos a céu aberto. Cedo devolverão às portas das casas dos teus filhos os dejetos e lixos recebidos. É a lei maior do retorno!A poluição das tuas águas, do teu solo, do teu ar e o feio visual da tua arquitetura feita de improvisos e sem o respeito devido aos traços arte decó deixados pela tua história campestre e romântica, cantada pelos teus saudosos poetas; estendendo desde o teu DI, até o Santa Rafaela.



Lá, saem dos tubos de PVC, jatos de descarga dos chuveiros e da limpeza, dos teus impunes motéis, que lançam ao solo resto de humores da lubrificação das vulvas e do sêmem dos teus filhos e dos ' en passant', que de lá fazem as suas alcovas temporárias e tropicais. A natureza ferida vinga!



Das covas rasas nos teus cemitérios e nas geladeiras do teu servido de medicina legal, onde dormem o sono sem volta os teus filhos assassinados na guerra dos costados dos distribuidores de ilusões exógenas.



Dos enumerados da lista que fiz, dos meus trinta e sete vizinhos, todos ainda jovens que morreram no ano de 2OO6 vítimas do crack. Vieram a este mundo insano portando o vírus "deletar antes dos trinta" Pobres meninos e meninas, filhos da incerteza, do desrespeito à cidadania, do vacilo!



Dos teus velhos veículos que são roubados diuturnamente nos teus acostamentos e garagens impunes, para desmanche e, dos teus condomínios de miséria, Feijão Semeado, da Coberta Suja. Verdadeiros bunker vigiados por câmaras de segurança pelo poder paralelo.



Dos teus filhos oprimidos pela subserviência política e pelas moedas desviadas dos teus cofres que compraram e compram apartamentos nas Alterosas, e casas nas praias da Bahia de todos os santos. Onde se embriagam e descansam alguns dos teus filhos; herdeiros da espúria. Quem com ferro ferem com ferro será ferido!



Dos teus antigos alforjes de pano amarrados a cabeceira das selas das montarias dos teus cavaleiros que levavam milho para o animal e balas 44 para os crimes contra inocentes mini-latifundiários.



Do teu hábito campesino de encobrir crimes praticados por conhecidos aceitando-os como normais, e parentes mesmo, taxados de românticos, em detrimento de outros filhos da mesma terra, ladrões de galinha que estão "contidos" na tua cadeia de isopor, se potencializando no crime para voltarem às ruas como bichos da urbe e invadir a privacidade dos teus lares, roubando e ceifando vidas de inocentes.



Logo chegarão as Kalichnikof e as Uzi e os teus filhos usarão coletes tipo cinco a prova de bala para irem às compras, e ao trabalho.



Quem viver, verá!

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por