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Domingo,9 de Fevereiro

Aborto e casamento gay

Jornal O Norte
Publicado em 02/03/2010 às 11:30.Atualizado em 15/11/2021 às 06:22.

Felippe Prates



É bom que temas como aborto e casamento gay estejam sendo discutidos mais abertamente no Brasil.  Porque além de serem questões importantes em qualquer tempo ou lugar, também ampliam o debate político.  Minúcias de relacionamento humano e direitos individuais como estes crescem e se transformam em matéria política quando as questões básicas da política  – estabilidade institucional, partidos representativos, democracia rotineira  –  estão resolvidos, ou já não afligem tanto.



Poder ocupar-se de detalhes é sinal de um corpo político saudável, com tempo para pensar no outrora impensável.  Ou, diria um opositor das novas discussões e de fígado ruim, para pensar em bobagem.



As controvérsias sobre aborto e casamento gay expandem o debate político mas não transcendem velhas diferenças entre esquerda e direita, na medida em que uma representa o pensamento “progressista” e a outra o conservadorismo religioso e laico, com todas as suas contradições.



Para a esquerda, a questão da descriminalização do aborto se resume no direito da mulher de reger seu próprio corpo sem arriscar sua vida em intervenções clandestinas, como as que existem hoje sem qualquer controle, responsável pelos altos índices de mortalidade.  Para a direita, com a Santa Madre Igreja de porta-estandarte, e a Igreja Evangélica de mestre sala, com a intolerância que não foi Deus que lhes deu, ninguém tem o direito de interromper uma vida que, segundo contam mas não provam, contrariando, inclusive, *postulados científicos, começa na concepção.



Nesse particular, a posição da esquerda não é muito coerente com a sua valorização do social sobre o individual.  E conservadores raramente invocam o mesmo argumento usado para poupar apenas um embrião que ainda não se tornou feto, como garante a ciência.  Segundo a Igreja, na sua miopia costumeira e com raizes nos tempos da Inquisição, na Idade Média, ”a vida é um dom sagrado” e a mãe que morra porisso!  Estuprada, ou não, principalmente quando se trata da mãe dos outros!



Para a ciência, um embrião se transforma em feto apenas após a oitava semana da concepção, oportunidade em que surgem os centros nervosos.   Até então, portanto,honesta, logicamente e em sã consciência, a eliminação de um embrião não se constitue em crime de qualquer espécie, pois não existe vida.



Esta é a pergunta que não quer calar: “A morte da mãe vale a vida do feto?  E se o feto morrer?”



Em ambos os casos há a proibição da mulher em dispor do seu ventre como quiser e na execução do condenado, defendem o que normalmente abominam: uma intromissão radical do estado e da Igreja na vida das pessoas.



Quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, é surpreendente que esquerda e direita não se encontrem em algum ponto.  A posição progressista é da tolerância com a opção sexual de cada um.  Já os conservadores condenam o homossexualismo e tudo o que o legitime.



Mas, emboramente, assim como um lado não pode deixar de achar careta mas inspiradora a vontade de casar dos gays, com todos os parâmetros, as pompas, as circunstâncias, as bênçãos tradicionais e muita festa, o outro lado e todas as pessoas normais, justas e despreconceituosas* não podem deixar de admirar esta verdadeira compulsão pela respeitabilidade!



Vejam bem:  se o matrimônio é um sacramento em declínio, na nossa opinião, numa fria e corajosa análise dos fatos, por mais incrível que pareça os gays podem recuperá-lo! 



E quem pode ser contra?!



* Postulado:  o mesmo que axioma, uma verdade incontestável porque evidente por si mesma.



* Despreconceituosas  -  Atenção Ronaldo José de Almeida: inventei mais uma!  Anota aí.



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