Abismo na inclusão digital

Jornal O Norte
18/07/2005 às 16:10.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:48

Tatiane Amorim

A Internet nasceu nos tempos remotos da Guerra Fria com o nome de AlphaNet para manter a comunicação das bases militares dos Estados Unidos, mesmo que o Pentágono fosse destruído por um ataque nuclear.

Quando a ameaça passou, AlphaNet tornou-se tão inútil que os militares já não consideravam necessário mantê-la sob a sua guarda. O governo americano desistiu da idéia de que a rede era útil apenas para projetos relacionados à defesa e foi permitido o acesso dos cientistas que, mais tarde, “cederam” a rede para as universidades. Sucessivamente, o uso propagou-se para universidades de outros países permitindo que diversos pesquisadores acessassem a rede.

De acordo com o analista de sistemas Yuri Santos Cruz, a Internet não tem um dono, e sim vários, pois ela nasceu com o objetivo de combater o monopólio da mídia construindo um “arsenal de informações fora de um possível controle”.



Com o surgimento da World Wide Web (Grande Teia Mundial), esse meio foi enriquecido. O conteúdo da rede ficou mais atraente com a possibilidade de incorporar imagens e sons. Até as empresas que nada têm a ver com a tecnologia de computador estão correndo para ocupar o seu espaço na rede e mostrar o “que possuem de melhor”. Elas produzem cuidadosamente seus sites para se tornarem atraentes e oferecerem informações úteis aos possíveis clientes e ao público em geral.

“Nos dias de hoje, não é mais um luxo ou simples questão de opção uma pessoa utilizar e dominar o manuseio e serviços disponíveis na Internet, pois ela é considerada o maior sistema de comunicação desenvolvido pelo homem” – diz Márcio Alan Custódio, programador especializado em redes.

Apesar da Internet ter o objetivo de expansão mundial sem monopólio, existe ainda, entre a população carente, um imenso abismo para a inclusão digital. Já prevendo a necessidade de “alfabetização digital” em todos os níveis de ensino, o censo escolar do Ministério da Educação (MEC), realizado em 1999, revelou que apenas 3,5% das escolas de ensino básico tinham (naquele ano) acesso à Internet, e cerca de 64 mil escolas do país não tinham sequer energia elétrica. Nos últimos anos, esse quadro está mudando com iniciativas governamentais a nível federal, estadual e municipal, além de apoios privados e do terceiro setor, mas a exclusão digital brasileira ainda é grande.

Embora os índices de informatização nas escolas tenham aumentado consideravelmente de 1999 a 2004 (último ano com dados globais levantados pelo MEC), a pesquisadora Neide de Aquino Noffs, da Faculdade de Educação da PUC-SP, diz que a inclusão digital nas escolas da rede pública ainda não é uma realidade. Segundo ela, para se falar em inclusão digital na educação não basta instalar computadores em escolas públicas; é preciso capacitar o professor para que ele transforme a sua aula utilizando a ferramenta digital.

A união entre tecnologia e ensino superior em Minas Gerais foi lançada no dia 7 de julho com o nome “Projeto Inclusão Digital”. O estado estabeleceu parceiras com a Empresa de Infovias (provedor de acesso à Internet do governo estadual) e com empresas da iniciativa privada, como a First International Computer do Brasil, com o objetivo de atender cinco mil escolas em 150 cidades mineiras.

“Há várias experiências isoladas em inclusão digital, mas no caso de algumas favelas de Belo Horizonte, por exemplo, o projeto funciona porque a própria sociedade está cuidando dele”, afirmou o governador Aécio Neves, durante discurso no lançamento do projeto.

Nos últimos anos, tem sido divulgada aos quatro cantos do Brasil a necessidade de se fazer à inclusão digital para aqueles indivíduos que não têm acesso às tecnologias de informação e comunicação. Estudos apontam mudanças significativas em toda a sociedade, pois muitas máquinas têm sido doadas por instituições governamentais e empresariais, relata Mardocai Ben-Haim Yossef, analista de sistemas e empresário do ramo de tecnologia.

Agora se mudarmos nosso foco de empresas e instituições para indivíduos, é visível que aproximadamente 48% da população brasileira, encontram-se excluídos do usufruto das tecnologias da era digital. Para termos uma idéia da quantidade de excluídos, basta responder a perguntas simples como, por exemplo: Quanto brasileiros possuem computador pessoal em suas residências?

A exclusão sócio-econômica desencadeia a exclusão digital. É preciso levar em conta indivíduos com baixa escolaridade, baixa renda, com limitações físicas e idosos. Uma ação prioritária deveria ser voltada às crianças e jovens, pois constituem a próxima geração. Um parceiro importante à inclusão digital é o ensino. A inclusão deve ser parte do processo de ensino como forma de promover a educação continuada.

Segundo a diretora de escola pública Graciana Lopes, é ainda necessário o desenvolvimento de redes públicas que possibilitem a oferta de meios de produção e difusão de conhecimento. As escolas e universidades constituem também componentes essenciais à inclusão digital, uma vez que diversos protagonistas (professores, alunos, especialistas, membros da comunidade) atuam em conjunto para o processo de construção do saber. É preciso que o governo, como principal agente do processo, assuma o papel de coordenador e atue em conjunto com a sociedade civil organizada a fim de assegurar que será construída uma ponte a fim de transpor o abismo para a inclusão digital.

 

Este texto faz parte da página produzida pelos acadêmicos do curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte


Editores: Ana Gabriela Ribeiro e Elpidio Rocha


Coordenador do Curso: Ailton Rocha Araújo


Coordenadora de produção: Tatiana Murta

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