Abaixo de mim

Jornal O Norte
18/12/2009 às 09:46.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:20

Márcio Adriano Moraes


Professor de Português e Literatura


marcioadrianomoraes@yahoo.com.br


 


Na minha vida, existem plantas sanguinárias. E no meu mundo, há pontos, linhas imaginárias que ceifam os meus luzentes lençóis de estrelas até a linha do Equador e, por entre esteiras, atravessam o meu mar cálido de rochas. Meus cabelos, no terreno seco dos peitos, caem como homens que despencam do céu para o mundo e que vão parar sem destino bem lá no fundo do horizonte; na constelação do cruzeiro... vejo o sonho lunar do ser humano inteiro.

Na cisão magistral das águas e das terras, esses homens que caem do céu, do mundo para o fundo do horizonte; na constelação do meu cruzeiro, encontram-se em um sonho lunar. Na separação das águas e das terras, na geografia torta de minha planta, homens maiores que seus planetas, que seus mundos, suas vidas... homens que vagam no espaço, sem rumo, cuja direção são suas imaginações  de vento.

A tesoura que fez meus cabelos caírem, agora corta a mim mesmo como uma faca cega podando minha mente. Dor intensa mastigando minha pele elástica. E os gritos dos outros planetas que vejo da terra do sol não chegam aos ouvidos da alma. E planam no ar todos os fragmentos genéticos do meu corpo. Pelos que escorregam pelos ralos fétidos ou que se agasalham em pretos sacos de lixo compõem a minha pessoa por inteira.  

No sonho de uma representação ilusória, acordo em um quarto escuro e fechado, talvez não enxergando a mim mesmo. No entanto, percebia apenas o mundo abaixo de meus pés. E como sonâmbulo caminho por estas vias de cruzes, encontrando em cada espaço entre uma pedra e outra a essência da fragmentação. E nos rostos ignotos que espancam minha face vejo a verdadeira face do adeus espontâneo. Não há intenção de guardar na memória os seres de trombadas de esquina.

Assim, o estilete corta tal a tesoura o estilo ímpar da nave vida una de todos os seres. Passos dados em bamba linha, trapezista de circo todos pulam de uma barra a outra, pois viver é barra. E sempre abaixo de mim estão todos estes fragmentos, resíduos humanos que caem não no solo terreno, mas no estrume fértil da imaginação humana. Criação de estadas ficcionais e flashes inverossímeis que iluminam a íris do arco da velha. Faça-se a aliança sem anéis, apenas vozes veladas e não veludosas cruzes que estarão sempre lá na estrada.

Ponto findo de um trajeto repleto de dejetos. E quando esses homens que caem do céu, do mundo para o fundo do vertical inferior, na costa da tela ação do seu cruzeiro, encontrarem-se no sono lunar, o sonho já será todo solar. E abaixo de mim o mundo estático girando em torno do eixo colossal das lápides.

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