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Quinta-Feira,15 de Maio

A verdadeira Mesa 2 - por Marcelo Walmor

Jornal O Norte
Publicado em 30/06/2009 às 10:36.Atualizado em 15/11/2021 às 07:03.

Marcelo Walmor


Professor universitário, articulista político e Mestre em Culturas Políticas pela UFMG



A famosa Mesa 2, lá pelos idos de 1981, era composta, basicamente, por Reginauro Silva, Egídio Medeiros, Geraldino (Boutique) Coelho, Kid Golo, Dirceu do Fotogênio, Hamilton Trindade, Haroldo Tourinho Filho (Cabaré), Patão, Carlos Muniz, Marcão (Cristal), Jaime Fortes, Artur Leite, Geraldo Machado, e tem o seu início no barzinho Painel, na recém-inaugurada Avenida Sanitária.



A história foi a seguinte. Quando se reuniram pela primeira vez, a mesa ocupada era a de número 2, portanto, quando passaram a frequentar o Seis a Seis, o Quintal, o Big Burguer e a Cristal, ou outros lugares, lá estava presente a Mesa 2, que se resumia nos seus próprios componentes. O que contava para esses homens não era a posse, a territorialidade, mas as ideias, o jogar conversa fora, e vinham de extratos sociais e de histórias muito distintas. Só para ficar num exemplo, temos um empresário (Geraldino) na mesma mesa com um artista plástico (Patão). O que contava era, como dito acima, a boa convivência, as boas histórias, e, sobretudo, uma boa cerveja gelada, acompanhada de um tira-gosto e um bom aperitivo.



Apesar de a maioria dos seus membros ter simpatia com a primeira gestão do atual prefeito Luiz Tadeu Leite, as discussões políticas eram praticamente proibidas, o que garantia uma convivência harmônica satisfatória e que selava as amizades.



E essa confraria, que recebia pessoas de atividades diversas, eventualmente recebia a presença de mulheres. Era um clube, originariamente, do Bolinha. Por isso mesmo, as mulheres permitidas à mesa, e que só apareciam eventualmente, eram esposas que, ciosas das suas famílias, passavam por lá para conferir se estava tudo bem. Assim mesmo, algumas delas nem por lá apareciam.



Alguns mais inveterados só partiam para suas casas em plena madrugada, mas a maioria se recolhia mais cedo, mesmo porque o horário em que se reuniam era em torno das 19 horas, o que garantia, até um certo horário, diversão e muitas risadas. Os excessos, madrugada adentro, evidentemente que ficavam a cargo de cada qual.



Esse grupo ficou de tal forma marcado que, toda última sexta-feira de cada mês, o proprietário do Big Burguer, barzinho que ficava ali no edifício cidade de Montes Claros, Marcão, oferecia um jantar para todos os membros da Mesa 2, gratuitamente, diga-se de passagem.



Evidentemente que temos muito mais histórias para contar sobre essa confraria, e o faremos posteriormente, mas o objetivo inicial foi o de recuperar, via cultura oral, um grupo de intelectuais que pensava a cidade em todos os sentidos, e que divertiu e exerceu influência política sem necessariamente procurar ser dona de espaços ou de cargos públicos.



Todo esse nomandismo dos componentes da Mesa 2 me fez relembrar uma história que pude presenciar lá em Betim-MG, há anos.



Meu ex-sogro, Antônio Baran, como todo patriarca, tinha a cabeceira da mesa reservada para sua pessoa. Era noite de natal, e como ele tinha uma nora que cultivava certas resistências dentro da família, o conflito com ela não tardou. E nessa mesma noite ela ocupou o seu lugar na mesa.



Como ele estava se arrumando, tão logo chegou à sala, sua esposa, Eunice, solicitou a Aparecida que cedesse o lugar, no que ele, ponderadamente, interveio:



- Não precisa, Eunice. Onde eu estiver, é lá que estará a cabeceira da mesa.



Seu Antônio, com certeza, se tivesse morado em Montes Claros entre os anos de 1981 e 1988, teria sido um dos membros da original Mesa 2.

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