A tática da mentira e da agressão sem causa - por Wilson Silveira Lopes

Jornal O Norte
05/06/2007 às 10:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:06

Wilson Silveira Lopes *

A matéria estampada no jornal O Norte do dia 30/05/2007, sob o título Sindicato acusa prefeito de descumprir acordo e servidor tem reajuste de apenas 8,57%, demonstra mais do que nunca a armação sem defesa que se montou  contra os servidores públicos municipais, grupo do qual honradamente eu também faço parte.

Infelizmente, já vi esse filme. Durante todo o período que antecedeu à decisão do Sr. Alcaide de conceder os míseros 8,57%, acompanhamos todos nós, pela imprensa, que as reuniões se davam no palatino do governo municipal, com a presença do nosso digno, valente e valoroso sindicato, na(s) pessoa(s) do(s) seu(s) sequaz(es) e, do outro lado, na qualidade de ouvidor dos seus reclamos, o Sr. Alcaide municipal e seus companheiros.

Conversas que vão e vem, particularizadas, sem a participação do maior interessado, o servidor, claro; sem a participação de representantes da câmara municipal – o que pareceria óbvio, mas não é em tal caso -, enfim, uma conversa fechada a quatro paredes.

A nota agitada pelo sindicato em que acusa o Sr. Alcaide de descumprir com a sua palavra parece um jogo já bem conhecido - de duplo sentido – e de prática usual no cenário político nacional quando as esquerdas deste país, ludicamente, brincam sempre de incoerência como instrumento útil e prático nas suas ações contra o povo.

A incoerência aqui é apresentada em duas versões, já que exceto eles que discutiram o que fazer com nós servidores, ninguém mais - até onde se possa saber- tomou conhecimento de que forma e como discutiram as nossas necessidades.

Logo, a primeira incoerência destacável é que o Sr. Alcaide, mesmo com o risco de mais desgastes nos seus já desgastados descumprimentos administrativos, deveria assumir um suposto reajuste de 17,14%, em duas etapas, para repor perda salarial sofrida pelo servidor, tudo discutido e bem feito através do nosso laborioso sindicato.

A noticia informa ainda que, da tribuna, o vereador do PCdoB, Lipa Xavier, leu manifesto veemente e revoltado  do Sindicato dando conta da quebra do acordo firmado com o Sr. Alcaide.

O sindicato com isso faz a segunda parte da incoerência de que falo. Levanta a ira dos senhores vereadores trazendo tal informação de cátedra somente conhecida por eles pelegos da administração atual e evidentemente do Sr. Alcaide e seus companheiros.

Esse jogo de cena que perturba e comove ao mesmo tempo, é o mesmo jogo que o PT pratica com o povo brasileiro: sofisma, engodo, mentira, enfim, completa deturpação e alienação da verdade.

Por incrível que possa parecer essa deturpação na interpretação dos fatos, atingiu até a bancada oposicionista que crédula creditou fé naquilo que lhes trouxeram como fonte cristalina de verdade, a ponto de o ilustre edil Athos Mameluque expressar, segundo a notícia:

- Ele fez o acordo e quando o sindicato lhe virou as costas ele ignorou tudo que havia combinado com a entidade. Foi um ato de traição, de enganação – emendou o vereador...

Na verdade todos se enganaram, redondamente, o jogo de cenas incoerentes foi cumprido à risca pelo sindicato e pelo Sr. Alcaide e seus companheiros.

Alguém leu ou ouviu dizer que o Sr. Alcaide reclamou da acusação formal que lhe fez o sindicato?

Então? Como não compreender a tática armada e de duplo sentido realizada de forma falaciosa?

Quem vai reclamar disso? O Servidor, que nunca reclama? O sindicato mais do que pelego, mais do que representado na administração pública e mais do que atrelado ao seu dever de subalternismo  e capachismo em favor da administração que lhe paga salários compensadores para manter o bico calado, sob pena de perder o bom ganho?

Ninguém, ninguém, mas ninguém mesmo ousaria avançar mais, aliás, pra quê?

Logo, logo, o Servidor esquecerá essa desconfortável memória de agora e continuará vivendo o que viveu até então, sem reclamar, nem fazer alardes, até porque menos mal, pois, para quem tinha defasagem salarial superior a noventa ou cem por cento, ganhar 8,57% já é motivo maior de retumbante  alegria e felicidade!!!

Agredidos, física ou mentalmente? Fisicamente, porque sofre-se na carne as perdas financeiras, mais sentidas quando se procura o que comer, o que beber, afinal, o que comprar com o parco salário recebido.

Mentalmente, pelas agressões psicológicas que conduzem cada um ao medo. Medo de reclamar; medo de contrariar; medo do medo de perseguições presentes e futuras que chegam mais das vezes sem nexo, nem causa, nem motivação aparente.

Sobre esta ultima relanceio os meus olhos aos ensinamentos do jornalista, escritor e filósofo Olavo de Carvalho que, como afirma, há dois tipos de agressão voltada ao psíquico das pessoas:

- ...a escandalosa e a tácita. A primeira choca e ofende às claras, para suscitar gritos de revolta que serão em seguida denunciados como provas da brutalidade ou loucura da vítima. A segunda humilha e pisoteia em atos, ao mesmo tempo que fala de outra coisa, como quem não quer nada. A vítima, acovardada e atônita, em geral prefere sofrer calada para preservar ao menos uma aparência de dignidade, e assim consente em tornar-se cúmplice passiva do agressor. ( parte de texto extraído do seu artigo de 29 de maio de 2007, sob o título Quem manda no brasil, publicado no Mídia sem máscara.)

Certamente, um belo dia, o Servidor quiçá usará a sua própria cabeça e entenderá o seu verdadeiro direito e o exercitará, democraticamente, se até lá a tivermos! Por ora, agüentemos a tática da mentira e da agressão sem causa.

* Advogado e funcionário público

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