Gilmar Gonçalves da Costa *
Buarque de Holanda conceitua lixo o que se varre de casa, da rua, e se joga fora; entulho, ou seja, algo desprezível pelo homem. No entanto, o que é lixo para alguns não será lixo para outros. Isso porque muitas pessoas sobrevivem do que chamamos de lixo, reciclando e comercializando (como papel, alumínio, plástico, entre outros); ou mesmo consumindo como alimento.
Dessa forma, chamamos de lixo os resíduos sólidos de natureza inorgânica (bateria de celular, bateria de veículos, pilhas, latas, entulhos, poeira, vidros, papel, plástico), e de origem orgânica, como por exemplo, restos de alimentos (arroz, feijão, verduras, saladas, esgoto).
Diante do exposto, qual montes-clarense que não andou pela cidade e não deparou com lixo pelas ruas, avenidas, calçadas, lotes vagos, ou próximo a uma construção civil? Quem já percorreu a cidade e não viu carros transportando lixo a céu aberto, causando poluição visual, mau cheiro, provocando desconforto?
Quando saio pela cidade sempre deparo com lixo de várias naturezas (orgânico, inorgânico, sólido e liquido) e percebo que o cidadão montes-clarense ainda não desenvolveu a devida sensibilidade ambiental. Isso porque a maioria da população não faz coleta seletiva de lixo, não separa os metais dos plásticos, os lixos sólidos dos lixos líquidos, os lixos domésticos dos hospitalares (seringa, gaze, algodão com iodo e mercúrio). Também noto que a instituição responsável não faz a coleta e destino do lixo urbano de maneira correta. Os garis recolhem o lixo das residências e jogam nos veículos, onde se misturam. Isso ocorre mesmo quando a seleção é feita em casa, o que invalida a iniciativa individual.
O que a prefeitura caracteriza como Aterro Sanitário Controlado, no meu entendimento, é apenas um lixão, um depósito urbano que, por estar localizado em uma das regiões mais elevadas da cidade, podem estar contaminando as áreas verdes e rios, através do xorume (liquido liberado pelos alimentos em decomposição). O problema é que as águas desses rios contribuem no abastecimento da cidade, colocando em risco a saúde e a vida da população.
Montes Claros produz atualmente em torno de 240 a 270 mil toneladas de lixo por dia e cerca de 6 a 7 milhões de toneladas de lixo ao mês, que são coletadas e armazenadas de forma inadequada. Para haver uma coleta e destino sustentável desses resíduos, a frota de veículos deve ser adequada, os funcionários têm que ser melhor capacitados para executar as atividades, e é preciso construir um aterro sanitário em um local adequado.
Isto nos leva a admitir que, em Montes Claros, o comportamento da administração pública e da população em geral com as questões ambientais está longe de ser modelo para outras cidades e, principalmente, exemplo para nós mesmos. Soma-se a isso a existência de uma configuração urbana desordenada, que é de responsabilidade do todos.
* Acadêmico do 6º Período de Geografia da rede Soebras