A renúncia

Jornal O Norte
19/10/2009 às 08:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:14

Dom José Alberto Moura, CSS

Na vida, as escolhas podem trazer-nos mais ou menos liberdade e realização na medida da opção por valores maiores ou não. Somos afeitos ao apego em relação ao que adquirimos com nosso trabalho ou ganhamos independentemente de nosso esforço. No entanto, mesmo o que é material é relativo como valor. O famoso rei Salomão pediu a Deus algo imaterial, como a sabedoria para saber governar bem o povo a ele confiado (Cf. Livro da Sabedoria 7, 7-11). Quanta sabedoria precisaria inundar a muitos para o exercício de mandatos para o serviço ao bem comum!

Na perspectiva do encaminhamento do ser humano na história, vale a pena a atenção dada ao projeto divino enunciado nas palavras bíblicas: "A palavra de Deus é viva, eficaz... Ela julga os pensamentos e as intenções... e é a ela que devemos prestar contas" (Hebreus 4, 12-13). De fato, a noção do bem maior nos é apresentado pelo Criador dentro da explicitação bíblica. Quem a assume na vida sabe do desafio de não se apegar demasiadamente ao que é material, a ponto de se saber usar os próprios recursos para o serviço ao bem comum. Não adianta o acúmulo de dinheiro, terras, joias, fortunas, diplomas, fama e prazeres. Tudo usado com parcimônia e comedidamente, conforme o parâmetro ético e moral, pode ajudar a pessoa humana em sua realização pessoal. Mas os valores maiores são os da altivez de caráter, do serviço prestado ao semelhante e do uso dos talentos para a promoção do bem da comunidade. A própria religiosidade não é grandeza se não for usada para ajudar a pessoa a colocar em prática a fé que leve à atitude de amor ao semelhante.

No texto do Evangelho, encontramos o grande ensinamento de Jesus a um homem que lhe dizia ser cumpridor dos mandamentos de Deus: "Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu... Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi-se embora cheio de tristeza, porque era muito rico" (Marcos 10, 21-22). O Mestre deu a lição de desapego. A riqueza é a finalidade de vida para muitos.

Deixa muitos ficarem escravos dela. Como é bom vermos pessoas livres, que preferem fazer da vida um ideal de implantar a justiça, a solidariedade, o bem do semelhante e da comunidade. Há quem use das riquezas materiais, intelectuais e de projeção social para marcar a história com o trabalho em causas de dignificam a vida e a dignidade humanas. Sabe renunciar o comodismo momentâneo para se dedicar à construção de tesouro na promoção do humanismo divinizado pelo amor. Tal renúncia é feita com o preenchimento de valor maior em grandeza de alma, em praticar a sabedoria do entesouramento do bem prestado na construção da cidadania de sentido para todos. O próprio Jesus fala do Reino definitivo de que fará parte quem soube entesourar méritos para obtê-lo.

Em geral, não gostamos de renúncias. Mas a exercitação em fazê-las, em troca de valores de mais preciosidade e sentido, faz-nos mais sábios e realizados. Basta o experimentá-los devidamente. Este é o desafio do Filho de Deus. Mesmo quem deixa tudo para O seguir terá recompensa incomensurável (Cf. Marcos 10, 29).

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