PALAVRA INTRODUTÓRIA DO LEITOR-ARTICULISTA
Senhor editor,
Segue abaixo uma matéria muito interessante, dinâmica e, sinceramente, ideal para ser publicada esta semana. Visto que, além de tratar do vestibular da Unimontes neste próximo domingo, que é de interesse unânime da classe estudantil, ela trabalha um assunto cuja possibilidade de ser mencionado na referida prova é muito significativa, que são as mudanças propostas pelo Ministério da Educação recentemente.
Portanto, acreditamos que seria uma boa tacada editá-lo.
Mais uma vez, obrigado,
Yago Cavalcante
Tal como há cerca de seis meses, no próximo dia sete, as mobilizações estudantil, docente e escolar montes-clarenses se reprisarão e virtude do concurso vestibular da Unimontes, em que se aplicarão ensinamentos didáticos acumulados por toda a jornada estudantil do candidato. A transpiração superará demasiadamente a inspiração, seja pelo desejo de ocupar a vaga pleiteadada, seja pela concorrência astronômica a ela conferida. Entretanto, o processo, que teoricamente posta o futuro calouro no vestíbulo do ensino superior, mascara um sistema educacional falho tanto no que se alude à aprendizagem, quanto à sua avaliação.
Verificamos, primeiramente, um currículo escolar que sujeita o aluno à fixação provisória de conceitos e fórmulas descontextualizados, dada pela presença de conteúdos deslocados de qualquer aplicação prática. Outro empecilho é o excesso de assuntos propostos, muitos deles cabíveis ao nível superior, que acabam por tornar a aula maçante, bem como abstêm o professor de um tempo ideal para técnicas operatórias e para o aprofundamento de matérias praticáveis. Baseado nisso, pondera nosso categórico professor de redação: “Qual a utilidade da função matemática cossecante a um futuro médico ou advogado?”. Como observamos, o aluno brasileiro tem se atentado ao simples armazenamento de informações e se alienado à formação de um senso crítico e interpretativo. Para o colunista e administrador Stephen Kanitz, o objetivo final de uma aula deve ser formar futuros pesquisadores, e não decoradores de matérias. A visão de Kanitz é plenamente ratificada pelo intenso dinamismo de fundamentos básicos das ciências naturais.
É imprescindível salientarmos que a problemática em questão não se restringe a Montes Claros ou a Minas, mas a todo o país. De modo que professor e aluno se veem vítimas de uma reprodução indiscriminada e superficial de conhecimento a fim de liquidar todo o currículo estabelecido em um tempo recorde. Por outro lado, principalmente em instituições públicas de ensino, ignora-se tal planilha programática em função da desmotivação salarial do corpo docente ou, até mesmo, pela precariedade física ou de recursos didáticos.
Como se não bastasse, a ineficácia do sistema educacional em vigor transcende e atinge o ápice, a avaliação vestibular. Devido à crescente concorrência, as comissões formuladoras de provas julgam como sendo necessária a presença de testes veementemente eliminatórios. Para tal, lançam mão de assuntos desprezíveis e da famosa metodologia “decoreba”, sem qualquer teor contextual.
Em contra-ataque à desoladora realidade, enfim percebida pelo governo, o Ministério da Educação propôs a unificação dos exames vestibulares do país em uma prova de 180 questões que substituiria o famigerado ENEM. A aludida avaliação, que será composta de problemas contextualizados e isenta de conceitos até então decorativos e incompreensíveis, poderá revolucionar, de fato, a educação no Brasil. No entanto o alento em voga vai de encontro à negativa brasileira da interrupção política de projetos oriundos da iniciativa da oposição.
Resta-nos, por conseguinte, torcer para que no próximo domingo se estabeleçam aqueles candidatos com um considerável senso crítico e criativo, ao invés de meros armazenadores de dados. No mais, já abusando do sentimento ufanista do leitor, anuamos que algum desses aprovados se ascenda no que tange à influência política e transfigure a educação brasileira! Utopia!?! É bem provável que não, sobretudo para quem supera uma concorrência de 163 candidatos por vaga. Opss... mais uma carência na educação nacional.