A pizza de Arruda

Jornal O Norte
14/12/2009 às 08:04.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:19

Dirceu Cardoso Gonçalves


Dirigente da ASPOMIL


aspomilpm@terra.com.br                                          

O governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, saiu do DEM antes que o partido formalizasse a sua expulsão. Pode ocorrer que também renuncie ao mandato eletivo se correr a ameaça concreta de impeachment. Fugindo da raia, como já fizeram muitos dos acusados de corrupção e más práticas administrativas, pode evitar a inelegibilidade e boa parte das punições. Aliás, o próprio Arruda já renunciou ao mandato de senador, em 2001, quando violou o sigilo do painel de votação do Senado Federal. Renunciou e, já no ano seguinte, elegeu-se deputado federal e depois governador.

Com a desfiliação formulada nesta quinta-feira, o governador estaria fora das eleições de 2010, quando poderia concorrer à reeleição. O candidato precisa ser filiado ao partido um ano antes das eleições, marcadas para outubro. Mas o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, adverte que é possível Arruda alegar perseguição partidária e ainda conseguir o registro de sua candidatura.

Essas saídas estratégicas dos faltosos, que renunciam para se safarem da punição integral, causam extremo mal-estar à população. Servem para conspurcar a imagem da classe política e fortalecer a estrábica visão de que “político é tudo ladrão” ou “farinha do mesmo saco”, como se diz.

No auge das crises é bem verdade que a renuncia do político-alvo é um alívio para toda a comunidade e especialmente para o próprio meio. Em alguns casos, se o suposto faltoso não renunciar, corre o risco de sair morto ou de provocar distúrbios onde outras mortes possam ocorrer. A própria história brasileira contabiliza os casos de Getúlio Vargas, Jânio e Jango. O primeiro teria se suicidado e os outros dois renunciaram, justificando, entre outras coisas, o desejo de evitar o derramamento de sangue de brasileiros.

Mas, exceto em casos extremos, a renúncia só tem valido para provocar a impunidade de maus administradores, corruptos e de confessos malfeitores. Via de regra, o afastamento tira o objeto principal das mobilizações, e o acusado passa ao largo, deixando de pagar pelo que cometeu. É nesse momento que o povo, antes bombardeado pelas informações sobre os pecados desses figurões, perde sua fé e parte para o perigoso terreno do desrespeito e do desprezo à classe política.

A nação espera que o governador José Roberto Arruda e demais participantes do seu esquema, ultimamente denunciados, sejam levados à mais justa punição. Que, renunciando ou não aos seus postos, sejam chamados a promover a mais severa reparação dos males que tenham cometido. E que só depois desse acerto de contas com a sociedade e a justiça, se ainda tiverem condições, possam voltar a postular novas eleições ou cargos públicos. Assim também deveria ocorrer com os participantes dos mensalões (mineiro e nacional), dos sanguessugas e de todas as outras vergonhas ocorridas na história política recente do país e, lamentavelmente, varridas para baixo do tapete da impunidade.

O respeito é bom e todos temos o direito de exigi-lo.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por