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Terça-Feira,13 de Maio

A pichação e o retrocesso eleitoral

Jornal O Norte
Publicado em 27/08/2009 às 09:45.Atualizado em 15/11/2021 às 07:09.

Dirceu Cardoso Gonçalves


Dirigente da ASPOMIL


 


São Paulo fez uma verdadeira guerra contra a propaganda exagerada e colocada em local indevido. O projeto “Cidade Limpa” deu uma nova cara à metrópole e hoje é referência em todo o país. Mas a Câmara de Vereadores acaba de abrir uma exceção. Na semana passada, aprovou um projeto que permitirá a pichação de propaganda eleitoral. A decisão é um verdadeiro tiro no pé da classe política e dos próprio vereadores que acabaram legislando em causa própria. Enquanto toda a população continuará impedida da prática, eles poderão usar e abusar da publicidade e promover a nefasta poluição visual, de que os paulistas hoje se orgulham estar livres.



A esperança do paulistano é que o prefeito tenha o bom senso de vetar a matéria e os vereadores recuperem o juízo, voltando atrás na decisão de instituir a injusta e casuistica exceção. Pichação eleitoral deve ser encarada como coisa do passado, da época em que o país possuía apenas o rádio e os jornais e muitos dos candidatos não tinha meios ou recursos para acessá-los. Hoje há uma grande gama de meios de comunicação. Além dos tradicionais rádio e jornal com recursos inovadores e grande segmentação, ainda há a TV, a internet e outras possibilidades mais contemporâneas que a pichação. Pichar hoje é coisa de gangs que merecem apenas e tão somente a perseguição e penalização policial. Assim deveria ocorrer também com os políticos que vierem a utilizar esse emporcalhador meio de se comunicar com o eleitor.



A pichação não e necessária nem nas pequenas localidades do interior. É mais fácil o candidato recorrer a outras formas – jornalzinho, panfleto, internet e o corpo-a-corpo – do que aplicar sua marca em muros que, na maioria das vezes, resta pintado até que uma nova eleição ocorra e outro interessado substitua as inscrições.



Em vez de partir para atrapalhar – e até desmoralizar – o “Cidade Limpa”, os vereadores paulistanos deveriam estar mais interessados é no encontro de fórmulas mais aceitáveis de financiamento das campanhas eleitorais. Certo que isso não é um problema que eles possam resolver, mas, como representantes da maior cidade do país, poderiam utilizar o seu peso político para forçar que o governo federal, senadores, deputados e a própria Justiça Eleitoral encontrassem um meio mais justo e sério de pagar a revoada eleitoral.



Dificilmente conseguirá ter uma boa imagem junto ao eleitor o político que gasta para se eleger muito mais do que receberá de subsídios durante todo o mandato que exercerá. Qual é a mágica que eles fazem? Seriam tão patriotas a ponto de aplicar mais para receber menos? Ou estariam exercendo seus mandatos em benefício de construtoras, instituições suspeitas, grandes negociantes e proprietários de bens que lhes financiam a campanha e depois esperam benesses custeadas pelo cofre público?



A Justiça Eleitoral já tem apertado o cerco. Mas isso ainda é insuficiente. O processo eleitoral só será legítimo e os políticos representativos quando não mais precisarem de financiadores para seus gastos eleitorais. O financiamento público e igual para todos pode ser uma saída. Isso sim é interesse eleitoral. Pichação é apenas um retrocesso...

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